Em entrevista à Agência Brasília, a chefe do Núcleo de Rede de Frio Central explica logística de entrega dos imunizantes na capital; assista ao vídeo
A Rede de Frio Central do Distrito Federal ficou conhecida a partir da pandemia do novo coronavírus, mas a unidade existe há 20 anos. Lá, além das vacinas contra a covid-19, são armazenados todos os imunizantes que chegam à capital federal e protegem a população de vários tipos de doença. No espaço também são acondicionados soros usados em pessoas que foram picadas por animais peçonhentos.
Em entrevista à Agência Brasília, a chefe do Núcleo de Rede de Frio Central, Tereza Luiza Pereira, explica o caminho percorrido pelos imunizantes até chegar às salas de vacinação do DF. “São 47 tipos de imunobiológicos [vacinas, soros, anticorpos] com capacidade de armazenar até 600 mil doses de vacinas por mês, podendo chegar a 1 milhão, vindas do Ministério da Saúde”, informa a responsável pela unidade.
Acompanhe, abaixo, os principais trechos da entrevista.
O que é a Rede de Frio Central?
A Rede de Frio existe desde 2001. É uma unidade da Secretaria de Saúde que tem por função receber, armazenar e distribuir os 47 imunobiológicos que o Ministério da Saúde fornece: vacinas de rotina e campanha, soros antiofídicos [para picada de animais peçonhentos, antitetânico] e imunoglobulinas [anticorpo humano, antirrábico e antitetânico] para todo Distrito Federal. A unidade ficou mais conhecida por causa da vacinação contra a covid-19, mas desenvolvemos esse papel há 20 anos, orientados pelo Programa Nacional de Imunizações [PNI] do governo federal. São 25 funcionários, entre técnicos administrativos e de enfermagem, enfermeiros, farmacêutico e administrador.
Qual a capacidade de armazenamento?
A unidade tem capacidade de armazenar até 600 mil doses de vacina por mês, podendo chegar a 1 milhão em épocas de campanha de vacinação. Como estamos na campanha da vacina contra a covid-19, basicamente todas as nossas geladeiras estão cheias. Além de uma rede de frio, é também uma área de backup. Se acontecer qualquer coisa com imunobiológicos na ponta ou nas regionais, temos que ter espaço para acondicionar o estoque deles aqui. A capacidade depende da apresentação, da vacina, de cada laboratório. Há caixinhas que guardam 500 doses, ou de tamanho semelhante, que armazenam apenas uma.
Como é a estrutura?
São três áreas. Há a administrativa, onde os servidores e a coordenação estão alocados; a área fria [cadeia de frio], onde ficam guardadas as vacinas com uma área de preparo e duas de armazenamento, e a área quente [almoxarifado], onde ficam acondicionados todos os insumos necessários para a vacinação, que são seringas, descartáveis, algodão. Se saem mil vacinas daqui, por exemplo, acompanha-as a mesma quantidade de material.
De onde vêm as vacinas?
Todas as nossas vacinas são distribuídas pelo Ministério da Saúde. O GDF não compra nenhuma vacina ou imunobiológico. São quatro fábricas produtoras de vacinas no Brasil: [Instituto] Butantan, Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz], Funed [Fundação Ezequiel Dias] e [Laboratório Médico] Vital Brasil. Há outras vacinas que são compradas no exterior ou em empresas privadas. Uma vez por mês, solicitamos ao governo federal o quantitativo de que precisamos para atender as unidades por 30 dias.
E a temperatura necessária para acondicionamento, é diferente para cada vacina?
São três tipos de temperatura. A maioria das vacinas fica armazenada de 2 a 8 graus. A vacina oral da poliomielite fica acondicionada a -20 graus, e depois que ela sai dessa temperatura tem que ficar de 2 a 8 graus, mas a validade, que é de dois anos, cai para três meses. Ou seja, o descongelamento é feito praticamente na hora de mandar para a sala de vacinação. Outro exemplo é a Pfizer, que é guardada a -80 graus. A Janssen é armazenada em -20 graus nos Estados Unidos, mas está sendo entregue de 2 a 8 graus, e depois não pode ser recongelada.
Como funciona a logística de distribuição?
Como disse, recebemos a vacina uma vez por mês. Temos sete regiões de saúde e oito redes de frio regionais [nos hospitais regionais de Asa Norte, Ceilândia, Gama, Paranoá, Planaltina, Taguatinga e Sobradinho e na Unidade de Saúde Básica nº 1 do Núcleo Bandeirante]. A cada 15 dias, as regiões entram com seus pedidos de acordo com a necessidade das salas de vacina.
E se as regiões precisarem de mais doses do que o previsto?
Avaliamos de acordo com o consumo mensal deles, com o número de salas de vacina e da população para ver se está compatível. Caso não esteja, entramos em contato para saber se está acontecendo algum surto de doença ou ação que justifique essa solicitação. Há uma conferência dupla também: uma pessoa separa em um dia e, no outro, outra pessoa confere novamente. Ao chegar ao destino, é feita outra conferência no local. A carga vem do aeroporto direto pela transportadora do Ministério da Saúde. Chegando aqui, colocamos na nossa área fria e abrimos caixa por caixa para verificar a temperatura de cada uma. Se alguma delas não estiver com a temperatura de 2 a 8 graus, ela entra em quarentena e comunicamos ao governo federal. Ele envia para o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde [INCQS] para que avaliem se aquela carga sofreu ou não perda de potência.
Quando sobram imunizantes, voltam para a rede?
Não. Dificilmente fazemos a logística reversa. Não temos a garantia da qualidade do que aconteceu com a dose lá. Só retorna para a rede de frio se a gente estiver com alguma falta de vacina de forma que precisemos fazer um remanejamento. Da mesma forma que recebemos do ministério, quando vamos à região [de saúde], pegamos todos os mapas de temperatura por onde os imunizantes passaram. Se ficou em uma caixa térmica, vamos olhar o mapa de temperatura da caixa. Se for em uma geladeira, a mesma coisa. Tudo isso para garantir que aquela vacina tenha qualidade. Há dois tipos de sobra. A dose remanescente, por exemplo, é composta por frascos multidoses que, depois de abertos, têm um tempo para ser utilizados. Se sobrarem [doses], têm que ser aplicadas dentro da validade do frasco ou descartadas após esse prazo. A região tem autonomia para fazer a logística dela. Há também o remanejamento. Se está sobrando em um local, mandamos para outro onde está faltando.
Após abertas, as vacinas duram quantos dias?
Temos diversos frascos multidoses que duram de sete a 28 dias. A AstraZeneca dura dois dias. Anotamos a data de abertura do frasco, ele fica na geladeira e vamos monitorando. Se há um frasco aberto e não tem nada escrito, vai direto para o lixo. Cada vacina tem seu prazo de validade, mas monitoramos isso de perto. Como o ministério compra fora do país, nem sempre ele recebe a vacina dentro de um prazo de validade aceitável. Alguns imunizantes foram liberados para mais público. O HPV é restrito para adolescentes, mas, em bula, ele é preconizado para mulheres até 45 anos e mulheres até 26 anos. Se a gente vir que vai vencer, fazemos uma nova estratégia.
Como está o estoque atual?
É muito dinâmico. Até esta quinta-feira [22], tínhamos 582.022 imunizantes. Quando trabalhamos com agendamento, precisamos que 100% das pessoas agendadas tenham o direito da vacina. Em algumas apresentações da Coronavac, da Janssen e até mesmo da Pfizer, nem sempre o aspirador consegue tirar a quantidade certa do frasco; pode quebrar ou ocorrer uma pane no equipamento. Por isso, mantemos uma reserva técnica para, caso a unidade sinalize que está faltando, a gente possa repor. Quando trabalhamos com demanda espontânea, que vai começar nesta sexta-feira [23], é diferente. Com relação à D2 da covid-19, o Ministério da Saúde não tinha garantia de entrega pelos laboratórios, então ele preferiu encaminhar a segunda dose da AstraZeneca. A expectativa é vacinar 180 mil pessoas com a segunda dose até 31 de julho.