INSUFICIÊNCIA AÓRTICA

Por RAQUEL LUIZA,

É o fechamento alterado das válvulas aórticas na diástole, o que permite fluxo retrógrado anormal da aorta para o ventrículo esquerdo (VE)

Disfunção sistólica na insuficiência aórtica - [thevalveclub]

Esse fluxo retrógrado gera aumento da pressão e do volume do ventrículo esquerdo (causando sua dilatação), bem como diminuição do fluxo sanguíneo para os tecidos.
As causas mais comuns de insuficiência aórtica são dilatação idiopática da aorta ou ectasia anulopática da aorta ou ectasia ânuloaórtica, válvula bicúspide, degeneração-calcificação dos folhetos, doença reumática, endocardite, hipertensão sistêmica, degeneração mixomatosa, dissecção da aorta ascendente e Síndrome de Marfan.
Os sintomas podem aparecer quando a dilatação ventricular começa, mas em muitos casos há insuficiência aórtica grave com dilatação ventricular que não causa sintomas.

Classificação

A classificação clínica da insuficiência aórtica, assim como da estenose, tem detalhamentos interessantes, mas em fases ainda assintomáticas, como podemos entender as razões no parágrafo acima. Também passou a ser recomendada em 2014 na publicação do guideline americano de doença valvar, sendo que todas as valvopatias foram classificadas em estágios de A até D de acordo com a gravidade da lesão e a presença de sintomas.

  • Estágio A: Possui fatores de risco.
  • Estágio B: valvopatia discreta ou moderda.
  • Estágio C: valvopatia importante assintomática.
  1. Estágio C1: FEVE MAIOR 50% com VE( ventrículo apresentando aumento moderado)
  2. Estágio C2: FEVE menor 50%  e/ou aumento importante do VE.
  • Estágio D: valvopatia importante sintomática.

A Fração de Ejecção de Ventrículo Esquerdo (FEVE) é o termo utilizado para conhecer a porcentagem de bombeamento do nosso coração em cada batida.

Pacientes no estágio A da insuficiência aórtica são os portadores de dilatação da raiz ou aqueles com valva aórtica bivalvular também sem refluxo significativo.

O estágio B é marcado pela presença de lesão do tipo insuficiência, mas com graduação discreta ou moderada. Assim, não apresentam repercussões hemodinâmicas para isoladamente apresentarem sintomas devido a valvopatia.

A partir do momento que temos a lesão classificada como importante, passamos para os estágios C e D. A diferença também está na ausência ou presença de sintomas. Enquanto o paciente está assintomático, ele é classificado como estágio C e aqui reside o maior interesse nessa classificação.

O estágio C tem as subdivisões de acordo com a fração de ejeção e diâmetros cavitários. Pacientes que permanecem com fração de ejeção preservada (>50%) e dilatação no máximo discreta, são classificados como C1 e apresentam sobrevida muito próxima da população geral. Enquanto àqueles que experimentam queda na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (<50%), ou dilatações superiores a moderada (>65mm), são classificados como estágio C2 e a intervenção nesse grupo é mandatória.

Com o surgimento dos sintomas, na presença de lesão considerada importante, o paciente é classificado como estágio D e também passa a ter indicação formal para intervenção valvar.

 

PATOFISIOLOGIA

Na regurgitação aórtica crônica, a sobrecarga de volume do ventrículo esquerdo ocorre em decorrência do aumento da quantidade de sangue recebido pelo ventrículo esquerdo da aorta durante a diástole, somando-se ao do átrio esquerdo.

Na regurgitação aórtica aguda, o ventrículo esquerdo não tem tempo para dilatar e permitir a entrada do maior volume, causando um rápido aumento da pressão ventricular esquerda e, posteriormente, edema pulmonar e diminuição do débito cardíaco.

Na regurgitação aórtica crônica, a hipertrofia e dilatação ventricular esquerda podem ocorrer gradualmente, mantendo assim as pressões ventriculares esquerdas e o débito cardíaco normais. Mas a descompensação se desenvolve, levando a arritmias, envolvimento ventricular esquerdo e insuficiência cardíaca.

Estenose Aórtica Valvar – Centro de Cardiologia

SINTOMATOLOGIA

O principal sintoma é a dispneia progressiva.
Pode haver dor no peito e sintomas de insuficiência cardíaca.
Um grande número de sinais foi descrito na insuficiência aórtica: o pulso celer et magnus, expressão de batimentos periféricos hiperdinâmicos, sinal de Musset (balanço da cabeça em sincronia com os batimentos cardíacos), sinal de Rosenbach (pulsação do fígado) ou Duroiez (sopro sistólico e diastólico quando comprimindo a artéria femoral).
Ocorre um aumento da pressão sistólica e uma diminuição da pressão diastólica (aumento da pressão diferencial).
À auscultação, notava-se segundo ruído diminuído, presença de terceiro ruído e sopro diastólico.
O sopro de Austin-Flint é a associação do sopro diastólico da regurgitação aórtica orgânica e do sopro diastólico da estenose mitral funcional.

 

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de insuficiência aórtica é suspeitado com base na história e nos achados do exame físico e é confirmado pela ecocardiografia. A ecocardiografia Doppler é o exame de escolha para detectar e medir o refluxo e classificar a gravidade geral da regurgitação aórtica. A ecocardiografia bidimensional pode quantificar o tamanho da raiz da aorta e definir a anatomia e função do ventrículo esquerdo.
O ecocardiograma indica o grau de gravidade e o impacto no ventrículo esquerdo, visualizando o fluxo regurgitante e a alteração valvar e ventricular.
O ventriculograma isotópico pode ajudar a estimar o fluxo regurgitante e a função ventricular.

 

TRATAMENTO

O paciente ideal para tratamento cirúrgico (troca valvar) é aquele que começa a apresentar sinais de disfunção ventricular esquerda e é assintomático. Por este motivo, é necessária uma monitorização cuidadosa por meio de exame físico e testes não invasivos (ecocardiograma).
Pacientes assintomáticos sem sinais de disfunção ventricular não devem ser operados, enquanto pacientes sintomáticos com função ventricular prejudicada nem sempre respondem adequadamente ao tratamento cirúrgico.

 

Bibliografia

1 – Otto CM, Bonow RO. A Valvular Heart Disease – A companion to Braunwald’s Heart Disease. Fourth Edition, 2014.

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