Por Raquel Luiza,
Pegar covid-19 pode causar alterações no cérebro, sugere um estudo publicado na revista científica Nature.
Cientistas encontraram diferenças significativas em exames de ressonância magnética realizados em pacientes antes e depois da infecção.
Mesmo após uma infecção leve, o tamanho geral do cérebro havia encolhido um pouco, com menos massa cinzenta nas partes relacionadas ao olfato e à memória.
Os pesquisadores não sabem ainda se as mudanças são permanentes, mas enfatizaram que o cérebro é capaz de se recuperar.
O projeto UK Biobank acompanha a saúde de 500 mil pessoas há cerca de 15 anos e possui um banco de dados de exames registrados antes da pandemia, proporcionando uma oportunidade única de estudar os impactos do vírus na saúde a longo prazo.
Os cientistas realizaram exames novamente em:
- 401 participantes, realizados 4,5 meses, em média, após a infecção (96% dos quais tiveram covid leve);
384 participantes que não tiveram covid.
E descobriram que:
- O tamanho geral do cérebro em participantes infectados havia encolhido entre 0,2 e 2%;
- Houve perdas de massa cinzenta nas áreas olfativas e regiões ligadas à memória;
- Aqueles que haviam se recuperado recentemente da covid acharam um pouco mais difícil realizar tarefas mentais complexas.
Mas os pesquisadores não sabem até que ponto as mudanças são reversíveis ou realmente importam para a saúde e o bem-estar.
“Precisamos ter em mente que o cérebro é realmente plástico — com isso, queremos dizer que pode se curar sozinho —, então há uma boa chance de que, com o tempo, os efeitos prejudiciais da infecção diminuam”, explica Douaud.
A perda mais significativa de massa cinzenta ocorreu nas áreas olfativas — mas não está claro se o vírus ataca diretamente esta região ou as células simplesmente morrem por falta de uso depois que pessoas com covid perdem o olfato.
Também não está claro se todas as variantes do vírus causam este dano.
Os exames foram realizados quando o vírus original e a variante alfa eram predominantes, e a perda de olfato e paladar era um dos principais sintomas.
Mas o número de pessoas infectadas com a variante ômicron que relatam este tipo de sintoma caiu drasticamente.
Sobre o estudo, a cientista-chefe do UK Biobank, Naomi Allen, diz: “Isso abre todos os tipos de questões que outros pesquisadores podem seguir sobre o efeito da infecção por coronavírus na função cognitiva, na névoa cerebral e em outras áreas do cérebro — e realmente focar as pesquisas na melhor forma de mitigar isso”.
O professor David Werring, do Instituto de Neurologia da University College London (UCL), também no Reino Unido, disse que outros comportamentos relacionados à saúde podem ter contribuído para as mudanças observadas.
“As mudanças na função cognitiva também foram sutis e de relevância pouco clara para as funções do dia a dia”, observa.
“E estas mudanças não são necessariamente vistas em todos os indivíduos infectados e podem não ser relevantes para cepas mais recentes”.