Aprovado pela Anvisa, equipamento tem cinco camadas, uma delas com um composto natural encontrado, principalmente, em casca de camarão
Uma pessoa infectada que estiver usando a nova máscara adequadamente não contaminará ninguém, porque o vírus será eliminado
Entre as quatro camadas de tecido TNT na sua composição, há uma aplicação de nanotecnologia de quitosana – elemento químico extraído da carapaça de crustáceos, como caranguejo, camarão e lagosta. A barreira envolve e degrada a membrana do vírus, inativando a contaminação. Por ser tão pequena quanto ele, a trama – espaços formados entre as fibras, também chamados de poros – acaba impedindo a passagem do micro-organismo causador da doença.
Chamada Vesta, a máscara, no modelo PFF2, que recebeu a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tem características virucidas, bactericidas e fungicidas, ou seja, o poder de extrair e inativar vírus, bactérias e fungos.
Além disso, o seu tecido é composto por um tipo de tecnologia que exerce atração eletrostática no vírus, que é atraído pela superfície por interpretar que está se aproximando de vias aéreas humanas. Dessa forma, uma pessoa infectada que estiver usando a Vesta adequadamente não vai contaminar ninguém, porque o vírus será eliminado. O ideal, porém, é que as outras pessoas também estejam protegidas pelo mesmo equipamento.
Eficácia
“Por todas essas características, comprovadas cientificamente, a Vesta torna-se um respirador único se comparado a outros modelos PFF2”, explica o pesquisador e professor da UnB Mário Rosa. Fabricada no Brasil, a PFF2 tem eficácia equivalente à N95, produzida no exterior.
Com duração de 24 meses, a pesquisa teve R$ 76.825 financiados pelo GDF, por meio da FAP-DF. A fundação tem a função social de apoiar estudos acadêmicos do DF e do Entorno voltados à tecnologia e à inovação. Somente em 2021, foram cerca de R$ 130 milhões investidos em trabalhos de startups e universidades públicas e privadas – essas últimas, pela primeira vez, contaram com financiamentos diretos.
“Sem o apoio das agências de fomento, como a própria FAP-DF, talvez não tivéssemos o desenvolvimento no Brasil em áreas tão diversas”, explica a chefe da Superintendência Científica, Tecnológica e de Inovação da FAP-DF, Renata Vianna.
Pesquisadores trabalham em testes para avaliar o impacto desse material também nos vírus transmissores do sarampo e da gripe
Testes no Hran
O material foi testado em profissionais do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) – referência no tratamento de doenças infectocontagiosas em Brasília –, tendo sido liberado pela Anvisa para a produção e comercialização nacional já no início do próximo semestre.
“Trata-se de uma máscara leve e confortável que desenvolve uma segurança a mais, principalmente para o profissional da saúde, que muitas vezes se contamina no momento de se paramentar”, avalia a infectologista Joana Darc Gonçalves, do Controle de Infecção Hospitalar do Hran.
O trabalho de pesquisa da UnB, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (PB) e coordenado pelo professor Rodrigo Carregaro, prossegue. O grupo de 18 pesquisadores está fazendo testes de aperfeiçoamento para avaliar o impacto do material nos vírus transmissores do sarampo e da gripe.
Transparência na gestão
A Finatec foi a responsável pela gestão dos recursos liberados pela FAP-DF investidos na pesquisa, auxiliando na compra de equipamentos e insumos para a confecção da máscara, de forma transparente. Essa gerência faz com que os pesquisadores concentrem sua atenção na pesquisa.
“Temos o credenciamento junto à FAP-DF e à Universidade de Brasília para atuar como fundação gestora dos recursos voltados ao fomento de pesquisas desenvolvidas no DF”, ressalta a gerente interina de Projetos, Suellen Carvalho. “Eu não sei lidar com isso, então a fundação nos deu a liberdade de fazer aquilo que somos capacitados, que é o estudo”, complementa a outra pesquisadora, Suélia Fleury Rosa.
Agricultura familiar
A confecção da Vesta impactará a cadeia produtiva da agricultura familiar. Como um dos elementos que compõem o dispositivo é a quitosana, os pesquisadores usaram apenas produtos desenvolvidos na agricultura familiar. Isso vai gerar uma renda extra para os produtores na comercialização de um item que é normalmente descartado.
https://www.flickr.com/photos/agenciabrasilia/51986430804/in/album-72177720297900092
Hédio Ferreira Júnior, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto