Por Raquel Luiza,
O estrabismo é um dos tipos mais comuns de patologias oftalmológicas – também conhecido por “olho torto”-, que consiste basicamente no desalinhamento dos olhos.
Por ser um problema comum, é extremamente natural encontrarmos tanto pacientes, quanto familiares de pessoas com estrabismo, que não sabem ao certo as causas, o melhor tratamento e as maneiras de lidar com a situação.
Para diminuir possíveis dúvidas e entender melhor o que é, prossiga com a leitura!
Deve -se suspeitar de estrabismo quando se observa que um dos olhos de uma pessoa não está olhando o objeto fixado. Ao observar um objeto, a pessoa estrábica o faz um olho apenas, enquanto o outro, o olho desviado, parece olhar em outra direção.
O que é o estrabismo?
O estrabismo nada mais é do que um desequilíbrio na função dos músculos oculares, causando um desalinhamento e impedindo que os olhos fiquem paralelos.
O olho possui cerca de seis pares de músculos extra-oculares, que são responsáveis por controlar o movimento dos olhos. Em cada olho, dois movimentam para a esquerda e para a direita. Os outros músculos são responsáveis por movimentar os olhos para baixo e para cima.
Para que ambos fiquem alinhados, todos esses músculos devem estar em equilíbrio. Quando esse equilíbrio não acontece, ocasiona o estrabismo.
Ele pode ser um problema notado no nascimento ou pode acontecer durante a fase adulta.
Tipos de estrabismo?
É importante reconhecer as diversas formas de estrabismo, pois sua evolução e tratamento diferem.
Diferente de outros problemas oculares, existem variações de estrabismo, que são:
- Estrabismo convergente. Que é quando o olho é desviado em direção ao nariz.
- Estrabismo divergente. Quando o desvio é para o lado
- Estrabismo vertical. Quando é para baixo ou para cima
Existem também alguns casos onde há uma combinação entre o desvio vertical e horizontal.
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Esotropia ou estrabismo convergente
Quando um dos olhos está desviado para dentro , para o lado nasal, como se o olho desviado olhasse o próprio nariz; é a forma mais comum de estrabismo. Pode acometer os dois olhos ao tempo.
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Exotropia ou estrabismo divergente
Quando um dos olhos se encontra desviado para fora. Com frequência, esta forma de estrabismo só é evidenciada no olhar à distância.
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Hipertropias
Estas são as formas de estrabismo em que um dos olhos se encontra desviado para cima enquanto o outro olho fixa o objeto. As hipertropias com frequência vêm acompanhada de esotropia ou extropia, tornando assim condição mais complexa.
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Ciclotropias
São as formas mais raras de estrabismo, nas quais um olho ou ambos os olhos se encontram girados no sentido horário ou anti- horário. As ciclotropias podem vir acompanhadas de um balanço ou movimento intermitente dos olhos conhecido como nistagmo.
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Pseudo-estrabismo
Quando num exame oftalmológico detalhado não se confirma a suspeita de estrabismo, tem-se o chamado falso ou pseudo estrabismo. Geralmente é observado em crianças que têm uma base do nariz mais larga, associada à presença de uma acentuada prefa do canto interno dos olhos, como nas pessoas de raça oriental.
Quando estas crianças olham para o lado, têm- se a impressão de que apresentam um desvio dos olhos para dentro. Um exame simples, feito pelo oftalmologista, conhecido como teste de cobertura, irá demonstrar a normalidade ou a ausência de estrabismo.
Existem algumas formas de estrabismo chamadas intermitentes, nas quais o desvio ou estrabismo só se manifesta eventualmente. Isto pode ocorrer também mas fases iniciais do estrabismo.
A visão com estrabismo
Em algumas formas de estrabismo, os chamados latentes ou não manifestos, a visão é pouco ou quase nada afetada. Os sintomas mais comuns nesta forma de estrabismo são ardor ocular, visão embaçada e dor de cabeça. Estes sintomas podem ocorrer durante ou aós os esforços visuais prologados, tais como ler, assistir TV, trabalhar muito tempo no computador, etc.
Com frequência, entretanto, o estrabismo causa baixa acentuada da visão do olho estrábico. Chamada de ambliopia estrabísmica, esta baixa visual decorre do não desenvolvimento da área do cérebro responsável pela visão do olho estrábico. É como se a visão do olho desviado fosse anulada ou suprimida pelo cérebro, dando preferência ao olho de visão mais nítida.
A supressão é uma forma de defesa, que preserva a pessoa portadora de estrabismo de conviver com a visão simultânea de dois objetos diferentes ( o olho desviado estaria olhando para um objeto e o olho normal para outro).
Se não tratada, a pessoa portadora de estrabismo também terá dificuldades com a percepção de profundidade, ou seja, a noção de distância entre os objetos. Conhecida como visão estereoscópica, esta noção de profundidade só é possível quando se olha para um objeto com os dois olhos ao mesmo tempo. A pequena diferença no ângulo com que é visto pelos dois olhos proporciona a noção de profundidade.
Possíveis sintomas do estrabismo
O estrabismo é assintomático para alguns pacientes. Para outros, pode apresentar alguns sintomas como dor nos olhos e na cabeça, e sonolência após tarefas visuais.
Em pacientes adultos também pode apresentar o sintoma de visão dupla.
Quais são as causas?
Em muitos casos não se conhece a causa do estrabismo; em alguns casos ele está ligado à uma herança genética.
O estrabismo pode surgir como decorrência da falta do uso de óculos no momento certo. É o que acontece com crianças quando entram na escola e passam a usar a visão de forma mais acentuada. A presença de hipermetropia ( um tipo de defeito de refração ou grau) nestas crianças , causa um estrabismo chamado acomodativo.
Doenças do sistema nervoso central tais como meningite, paralisia cerebral, síndrome de Down, podem vir acompanhadas de estrabismo. O traumatismo craniano pode provocar desvios transitórios ou permanentes, causando visão dupla, a chamada diplopia. Nestes casos o estrabismo pode se manifestar de forma aguda, em pessoas adultas, e requer uma avaliação oftalmogógica e neurológica em carácter de urgência.
O estrabismo pode estar presente por ocasião do nascimento da criança, sendo chamado de congênito.
O exame de vista?
O exame de vista consiste na medida da acuidade visual, exame dos movimentos e alinhamento dos olhos, exame da parte anterior do olho e medida da pressão intra-ocular. As pupilas são dilatadas para se determinar a existência de algum defeito de refração e para se examinar o fundo do olho. Os defeitos de visão ou ametropias, popularmente denominados de grau, são a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo. Um exame complementar, chamado exame ortóptico, pode ser necessário para avaliar e medir o desvio ocular.
O tratamento do estrabismo
Como é mais comum no nascimento, o indicado é que o tratamento comece o mais cedo possível, já que as possibilidades de cura são maiores antes dos dois anos de idade.
É por esse motivo que o estrabismo é considerado uma questão de urgência, assim que diagnosticado.
É importante que a família leve a criança a um oftalmologista para verificar se é somente estrabismo, já que é possível que ela também tenha astigmatismo, miopia e hipermetropia.
Além de corrigir o desvio, o tratamento do estrabismo tem por objetivo proporcionar à criança a possibilidade de visão normal nos dois olhos. O melhor resultado obrido com o tratamento seria aquele em que a criança recuperasse também a visão de profundidade. O tratamento deve ser iniciado assim que o estrabismo for diagnosticado.
A primeira providência consiste em receitar óculos se a criança apresentar algum tipo de grau. Se a visão de um dos olhos for pior, mesmo com os óculos, está indicada a oclusão do olho de melhor visão, por algumas horas do dia, por um período que dependerá da avaliação periódica do oftalmogista. A oclusão do olho de melhor visão pode levar à melhora da visão do outro olho, quando realizada de forma sistemática e m crianças com idade inferior a 8 anos. A oclusão ( tampar um olho com um oclusivo para impedir que a criança exergue com ele), tem por finalidade fazer com que a criança utilize o olho de pior visão, estimulando assim a área do cérebro relacionada à visão deste olho.
A correção do estrabismo através de cirurgia está indicada quando o desvio dos olhos persite mesmo após o tratamento clínico ou conservador. A cirurgia visa alinhar os olhos quando a pessoa olha para frente. Com frequência, a cirugia tem finalidade apenas estética, não proporcionando melhora da visão do olho desviado. Por isto mesmo, a cirugia é apenas mais uma etapa do tratamento. Em adultos, a cirurgia pode ser realizada sob anestesia local, mas em crianças habitualmente se utiliza a anestesia geral.
Nos casos em que o estrabismo é apenas latente ou em que haja uma debilidade da musculatura extra-ocular ( insuficiência de convergência), o tratamento ortóptico poder útil. Habitualmente realizado por um profissional especializado ( ortoptista), o tratamento consiste em exercícios para a musculatura extra-ocular, reforçando-a diminuindo assim o cansaço aos esforços visuais.
Em adultos, o tratamento pode ser através do uso de óculos, óculos + cirurgia para a correção ou apenas cirurgia.
É importante citar que cada caso é distinto e só um médico pode avaliar qual o melhor tratamento.
Além da questão oftalmológica onde há desalinhamento dos olhos, o paciente com estrabismo também pode apresentar problemas psicológicos e sociais, relacionados com a questão da aparência, já que ela possui uma influência na autoestima e no comportamento da pessoa.
Desta forma, é indispensável ao notar qualquer introspecção que a família e os amigos busquem auxílio médico especializado para tratar também este quesito.