Em 2022, as cinco equipes multiprofissionais ofertaram 14.325 atendimentos individuais e 20.723 procedimentos, o que inclui aplicação de vacina, insulina, entrega de medicamentos, testes rápidos, entre outros
Agência Brasília* I Edição: Débora Cronemberger
![](http://agenciabrasilia.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2023/01/WhatsApp-Image-2023-01-26-at-10.57.27.jpeg)
Os profissionais percorrem toda a região sudoeste, que abrange Águas Claras, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires. O objetivo é levar saúde para as pessoas vulneráveis, que, por preconceitos e dificuldade de acesso, entre outros fatores, só contam com a assistência porque o Estado presta esse serviço.
Cinco equipes cobrem o Distrito Federal. A maioria conta com assistente social, enfermeiro, médico, psicólogo e técnicos de enfermagem
Em tratamento
“Gosto muito de ver vocês”, afirma o jovem, que está há cinco anos nas ruas. Ele é soropositivo e iniciou o tratamento pela equipe do consultório itinerante. Atualmente, o rapaz também tem vínculo com a Unidade Básica de Saúde nº 3, onde recebe tratamento. “Não tenho nem documento, mas, tendo qualquer problema sou atendido”, conta. André tem acesso a medicamentos, pomadas e orientações para a prevenção.
“Ele interrompe e volta ao tratamento”, detalha a enfermeira Lea Graziela Nunes Portela. A falta de constância é um desafio. Mas o maior, segundo a equipe, é estabelecer o vínculo com os pacientes.
“Tudo depende da história de vida do paciente, das frustrações e das relações que construiu”, explica a assistente social Ana Rosa Pessoa Peixoto, que trabalha no projeto desde o início, em 2012. “Teve um caso que a gente vinha todos os dias por dois anos e se apresentava como Saúde e ele nem nos respondia. Era um trabalho de formiguinha para conseguir acessar os pacientes”, recorda.
![](http://agenciabrasilia.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2023/01/WhatsApp-Image-2023-01-26-at-10.57.26.jpeg)
Do outro lado da rua, Artur Magno*, 50 anos, espera a assistência chegar. Ele está sentado em um daqueles cobertores que só se veem na rua e que se encontra perfeitamente dobrado, como se fosse de hotel. O homem tem esquizofrenia, bipolaridade e usa álcool e outras drogas. A pessoa em situação de rua conta às profissionais sobre as 16 fazendas que diz ter, que é doutor e que morava em uma mansão. Também reclama de uma coceira, de manchas pelo corpo e pede para fazer exames.
Cobertura do atendimento
Começa a chover, e a equipe continua na rua. “Quando prometemos levar um medicamento no dia, nós temos que atender, porque isso impacta a confiança que eles têm na gente”, justifica a enfermeira Lea Graziela.
A equipe da região sudoeste é uma das cinco que cobrem o Distrito Federal. A maioria conta com a composição mínima de assistente social, enfermeiro, médico, psicólogo e técnicos de enfermagem. A gerente de Atenção à Saúde às Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais, Juliana Oliveira Soares, informa que também há duas outras equipes em processo de cadastramento pelo Ministério da Saúde.
De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (Iped) publicada em 2022, a estimativa é de 2.938 pessoas em situação de rua. No mesmo ano, as cinco equipes do consultório itinerante ofertaram 14.325 atendimentos individuais e 20.723 procedimentos, o que inclui aplicação de vacina, insulina, entrega de medicamentos, testes rápidos, entre outros. No ano passado, também foram registrados 1.043 atendimentos odontológicos.
Invasões
![](http://agenciabrasilia.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2023/01/WhatsApp-Image-2023-01-26-at-10.57.26-3.jpeg)
As equipes do consultório na rua também são fundamentais para as populações em invasões. Atrás de dois tapumes em Taguatinga, esconde-se uma família de 14 pessoas, que preferiram não se identificar. A água esverdeada deixa clara a insalubridade do espaço. Em um dos paletes que a família usa como ponte, o patriarca da família, 57 anos, escorregou, machucando a perna e as costelas. “Sinto dor para respirar”, contou.
A equipe aplicou analgésico, receitou medicamentos e o encaminhou para que fizesse a radiografia das regiões machucadas. “Pode ter trincado alguma coisa, e é importante checar”, afirma a técnica em enfermagem Eldivone Sousa. Todos receberam um kit de higiene bucal. Os moradores também ganharam uma cesta básica que foi doada pela comunidade à Unidade Básica de Saúde nº 5, de Taguatinga, que é responsável pelo consultório na rua.
*Com informações da Secretaria de Saúde; os nomes dos personagens são fictícios