Artropatia de Charcot: O que é, causa, sintomas e tratamento. Conhecer para Prevenir!

Por Raquel Luiza,


O que é artropatia ou pé de Charcot: veja sintomas da doença | saúde | ge

História

A doença foi descrita pela primeira vez em 1868, pelo médico neurologista francês Jean Martin Charcot, que observou que pacientes portadores de sífilis terciária apresentavam uma osteoartropatia destrutiva que afetava as articulações.

Já em 1936, Willian Riely Jordan fez a primeira correlação entra a Artropatia e o Diabetes.

O que é ?

Também conhecida como artropatia neurogênica, nessa condição ocorre destruição osteoarticular em pacientes com neuropatia periférica e perda da sensibilidade protetora. Sem os mecanismos protetores, ocorrem traumatismos locais repetidos, danificando progressivamente cartilagem e osso.

 

Causas

As causas estão relacionadas com a presença de desordens neurológicas, sendo a principal delas o Diabetes.

Outras desordens neurológicas que podem levar à Artropatia de Charcot são:

  • Hanseníase
  • Intoxicação alcoólica
  • Espinha bífida
  • Mielomeningocele
  • Paralisia cerebral
  • Sífilis ( tabes dorsalis)

Epidemiologia

Tem forte associação com a Diabetes Mellitus tipo 2, com incidência de cerca de 0,5%, sendo o início da doença, na maioria das vezes , a partir dos 50 anos de idade.

Apesar da doença já ter sido descrita em articulações como joelho, quadril e punho, a Artropatia de Charcot afeta preferencialmente os pés e tornozelos, podendo ser bilateral em até 10 % dos casos.

Em estágios mais avançados, o desabamento da estrutura óssea pode causar deformidade em que o pé fica com uma convexidade na região plantar, conhecida como pé em “Mata-Borrão”.

pé em mata borrão

 

 

Quais são os sintomas?

Artrite principalmente de pés e tornozelos, deformidades e destruição óssea, podendo ocorrer fraturas. A etiologia subjacente mais comum é a Diabetes Mellitus, que acomete principalmente as articulações do tarso e metatarso. Na sífilis ( tabes dorsalis), os joelhos, quadris e tornozelos são mais acometidos. A sensibilidade dolorosa é comprometida e o grau de dor é desproporcionalmente leve considerando as lesões articulares.

 

Como é realizado o diagnóstico?

O diagnóstico baseia-se nas manifestações clínicas e achados radiológicos, no contexto de um paciente portador de uma  neuropatia sensorial subjacente. A radiografia mostra inicialmente alterações semelhantes às encontradas na osteoartrite ( estreitamento do espaço articular, esclerose subcondral, presença de osteófitos e derrames articulares). Posteriormente, ocorre destruição óssea extensa. Podem ser necessárias culturas do tecido articular para afastar osteomielite ( infecção no osso causada por bactérias, fungos ou micobactérias, em especial o Staphylococcus aureus).

Quanto aos exames de imagem, as radiografias auxiliam na avaliação das alterações ósseas presentes na doença, mas podem ser normais em estágio iniciais. A ressonância magnética é outro exame de imagem que pode auxiliar na detecção precoce de alterações ósseas que ainda não aparecem nas radiografias.

Estágios da Artropatia de Charcot

A doença pode ser dividida em alguns estágios de evolução, de acordo com a classificação de Eichenholz.

Cada estágio possui características próprias, que ajudam a entender a progressão da doença:

Estágio 0 – Inflamação

Estão presentes as características inflamatórias observadas no exame físico: edema (inchaço), vermelhidão e aumento de temperatura local. Geralmente não se notam alterações nas radiografias.

Estágio 1 – Fragmentação

As alterações clínicas inflamatórias ainda estão presentes. Já é possível observar algumas alterações nas radiografias, como fragmentações no osso subcondral, corpos livres periarticulares e subluxações. A estrutura óssea do pé começa a “desabar”.

Estágio 2 – Coalescência

As alterações inflamatórias começam a diminuir. Nas radiografias, é possível notar a reabsorção de fragmentos ósseos e a fusão de articulações do pé.

Estágio 3 – Consolidação

As alterações clínicas inflamatórias já não estão presentes. O pé apresenta um desabamento da sua estrutura óssea e as deformidades já estão estabelecidas. Na radiografia, observamos anquiloses e alterações ósseas sequelares.

 

Tratamento

O enfoque primário é na estabilização articular. O tratamento conservador inclui suporte e sintomáticos + apoio na sustentação do peso para prevenir novos traumatismos.

Nas deformidades graves, intabilidade significativa, úlceras reicidivantes e fraturas agudas, o tratamento é cirúrgico. Em alguns pacientes , é inevitável a amputação.

O tratamento da Artropatia de Charcot deve ser individualizado para cada caso, e pode ou não envolver cirurgia.

O tratamento nem sempre tem a finalidade de corrigir as deformidades que são causadas pela Artropatia de Charcot. Por outro lado, o objetivo do tratamento é manter o pé funcional (permitir apoiar o peso do corpo e andar), estável, capaz de receber órteses e calçados adequados, e livre de úlceras e infecções.

As abordagens não cirúrgicas envolvem medidas que restringem a carga no pé acometido. Para isso, podem ser utilizadas órteses suropodálicas personalizada e botas de gesso de contato total. Também é fundamental manter o acompanhamento clínico rigoroso do Diabetes, com controle adequado dos níveis glicêmicos.

O tratamento cirúrgico envolve diversos tipos de procedimentos, que podem ser combinados: ressecções ósseas, artrodeses, beaming, fixadores externos. A cirurgia também tem o objetivo de restabelecer a funcionalidade do pé, o que pode envolver a correção da deformidade ou não.

 

cirurgia pé de charcot

 

As alterações ósseas e articulares presentes na Artropatia de Charcot são complexas e somam-se aos riscos relacionadas ao Diabetes (vascularização ruim dos tecidos, pior cicatrização, risco de infecções), o que pode levar a complicações catastróficas no pós operatório.

Portanto, é importante ressaltar que a indicação do tratamento cirúrgico para a Artropatia de Charcot deve considerar muito bem os riscos e benefícios e ser planejada cuidadosamente para cada caso.

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