Por Raquel Luiza,
Forma aguda da Esquistossomose que ocorre por reação de hipersensibilidade aos antígenps do Schistosoma mansoni, adquiridos transcutaneamente ao nadar ou entrar em contato com águas contaminadas. Os parasitas infectam os vasos do trato gastrintestinal ou trato geniturinário. Sintomas agudos são dermatite, seguida após várias semanas por febre, calafrios, náuseas, dor abdominal, diarreia, mal-estar e mialgia. Os sintomas crônicos variam com as espécies, mas incluem diarreia sanguinolenta (p. ex., com S. mansoni, S. mekongi, S. intercalatum, and e S. japonicum) ou hematúria (p. ex., com S. haematobium). O diagnóstico é feito pela identificação de ovos nas fezes, na urina ou em amostras de biópsia. Testes sorológicos podem ser sensíveis e específicos, mas não fornecem informações sobre cargas parasitárias ou o estado clínico. O tratamento é feito com praziquantel.
Etiologia da esquistossomose
A esquistossomose é, de longe, a infecção mais importante por trematódeos. O Schistosoma é o único trematódeo que invade o corpo pela pele; todos os outros trematódeos o fazem somente por via digestória. Mais de 230 milhões de pessoas estão infectadas em todo o mundo.
Há cinco espécies de Schistoma, todas com ciclos de vida semelhantes, que envolvem caramujos de água doce. S. haematobium causa doença do trato urinário; as outras Schistosoma spp provocam doença intestinal.
A distribuição geográfica dos esquistossomas que infectam seres humanos difere por espécies:
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S. haematobium: é distribuído amplamente no continente africano com focos menores no Oriente Médio, Turquia e Índia
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S. mansoni: é disseminado na África, tem foco no Oriente Médio, e é a única espécie presente no hemisfério ocidental em regiões da América do Sul e em algumas ilhas caribenhas
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S. japonicum: Ásia, em especial na China, Filipinas, Tailândia e Indonésia
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S. mekongi: Sudeste Asiático
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S. intercalatum: África Central e Ocidental
Os seres humanos são os principais reservatórios da infecção. Cães, gatos, roedores, porcos, cavalos e cabras são reservatórios de S. japonicum, e cães são reservatórios de S. mekongi. A transmissão dessas espécies não ocorre nos Estados Unidos (incluindo Porto Rico) e no Canadá, mas a doença pode estar presente em viajantes e imigrantes de regiões endêmicas.
Fisiopatologia da esquistossomose
Os vermes adultos do Schistosoma vivem e se reproduzem nas vênulas do mesentério (tipicamente, S. mekongi, S. intercalatum, S. japonicum e S. mansoni) ou da bexiga (tipicamente, S. haematobium). Alguns ovos penetram na mucosa intestinal ou da bexiga e são eliminados nas fezes ou na urina; outros ovos permanecem no órgão hospedeiro ou são transportados pelo sistema portal ao fígado e, algumas vezes, para outros locais (p. ex., pulmões, sistema nervoso central, medula espinal). Ovos excretados eclodem na água doce, liberando miracídios (primeira fase da larva) que entram nos caramujos. Após a multiplicação, são liberadas milhares de cercárias de cauda bifurcada nadadoras.
As cercárias penetram a pele humana em questão de minutos após a exposição. Quando penetram a pele humana, perdem a cauda bifurcada e se transformam em esquistossomos, que se deslocam pela circulação sanguínea até o fígado, onde amadurecem e se tornam adultas. Subsequentemente, migram para o último local nas veias intestinais ou no plexo venoso do trato geniturinário.
Ovos aparecem nas fezes ou na urina 1 a 3 meses depois da penetração cercariana.
Estimativas da sobrevida de vermes adultos variam de 3 a 7 anos. O tamanho das fêmeas varia de 7 a 20 mm e os machos são ligeiramente menores.
Ciclo de vida simplificado do Schistosoma
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Em quem ocorre?
Hospedeiros não imunes, como viajantes que se dirigem à zona endêmica. Pacientes com prática de banhos e natação em água doce.
Quais são os sintomas?
Surgem após 3 a 8 semanas da infecção: Febre, urticária, angioedema, mialgia , artralgia, tosse seca, diarreia, dor abdominal e cefaleia.
Dermatite aguda por schistosoma
A maioria das infecções é assintomática. Um exantema papular e pruriginoso (dermatite cercariana) pode se desenvolver no local de penetração das cercárias na pele em.
Febre de Katayama aguda
Febre de Katayama é uma reação de hipersensibilidade sistêmica que pode ocorrer com o início da postura de ovos, tipicamente 2 a 4 semanas após exposição intensa. Os sintomas incluem febre, calafrios, tosse, náuseas, dor abdominal, mal-estar, mialgia, exantema urticariforme e eosinofilia marcante, assemelhando-se à doença do soro. As manifestações são mais comuns e normalmente mais intensas em visitantes do que em residentes de áreas endêmicas e tipicamente duram várias semanas.
Esquistossomose crônica
A infecção crônica é mais comumente decorrente de exposição repetida em regiões endêmicas, mas também pode ocorrer após exposição breve, como ocorre em viajantes. A esquistossomose crônica resulta principalmente das respostas granulomatosas do hospedeiro aos ovos retidos nos tecidos.
Esquistossomose intestinal: no início, ulcerações da mucosa intestinal causadas por S. mansoni, S. japonicum, S. mekongi ou S. intercalatum pode sangrar e resultar em diarreia sanguinolenta. Com o progredir das lesões, podem se desenvolver fibrose focal, estenose, fístulas e papilomas no intestino.
Esquistossomose hepatoesplênica: reações granulomatosas a ovos de S. mansoni, S. japonicum, S. mekongi e S. intercalatum no fígado geralmente não comprometem a função hepática, mas podem causar fibrose e cirrose, que podem levar à hipertensão portal, resultando em esplenomegalia e varizes esofágicas. As varizes esofágicas podem sangrar, causando hematêmese.
Ovos nos pulmões podem produzir granulomas e arterite obliterante focal, que essencialmente pode resultar em hipertensão pulmonar e cor pulmonale.
Envolvimento vesical com S. haematobium produz ulcerações na parede da bexiga que podem provocar disúria, hematúria e poliúria. Com o passar do tempo, cistite crônica se desenvolve. Constrições podem provocar hidroureter e hidronefrose. Massas papilomatosas na bexiga são comuns e carcinoma de células escamosas da bexiga pode se desenvolver.
Perda de sangue a partir dos tratos gastrintestinal e geniturinário com frequência resulta em anemia por deficiência de ferro.
Pode ocorrer infecção bacteriana secundária do trato geniturinário por S. haematobium, e septicemia persistente ou recorrente por Salmonella. Várias espécies, notavelmente S. haematobium, podem causar doença genital tanto em homens quanto em mulheres, resultando em numerosos sintomas, inclusive infertilidade. Complicações neurológicas podem ocorrer mesmo nas infecções leves por Schistosoma. Ovos ou vermes adultos alojados na medula espinal podem provocar mielite transversa, e aqueles no cérebro podem produzir lesões focais e convulsões.
Como é realizado o diagnóstico?
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Exame microscópico das fezes ou urina (S. haematobium) para ovos, com metódo Kato-Katz.
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Testes para antígenos
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Testes sorológicos
Indicam-se testes diagnósticos para pacientes com sintomas de esquistossomose e exposição epidemiológica relevante. Justifica-se rastrear pessoas assintomáticas à procura de exposição à água doce em áreas endêmicas.
Diagnostica-se esquistossomose e estima-se a carga parasitária por exame microscópico de fezes ou urina (S. haematobium) à procura de ovos. Exames repetidos que utilizam técnicas de concentração podem ser necessários. A geografia é o principal determinante das espécies, de modo que o local de exposição deve ser comunicado ao laboratório. Se o quadro clínico sugerir esquistossomose, mas nenhum ovo for encontrado após exame repetido de urina ou fezes, pode-se fazer biopsia da mucosa intestinal ou da bexiga para verificar se há granulomas característicos ao redor de ovos incorporados.
Testes para antígenos esquistossômicos ou DNA no sangue, urina ou fezes são especialmente úteis para programas de erradicação de esquistossomos e em viajantes que retornam com suspeita de infecção. A maioria dos testes de detecção de antígeno é quantitativa e os níveis de antígeno estão correlacionados com a carga parasitária. Alguns testes para antígenos, como a comercialmente disponível tira reagente de urinálise para S. mansoni, são qualitativos.
Testes sorológicos podem ser sensíveis e específicos para infecção, mas não fornecem informação sobre carga parasitária, status clínico ou prognóstico, e não distinguem a infecção ativa da resolvida. Portanto, testes de anticorpos são mais úteis para detectar infecção em viajantes que retornam de regiões endêmicas, e não são úteis em pacientes residentes em regiões endêmicas. Em caso de pacientes que retornaram de viagem, recentemente, deve-se fazer sorologias em ≥ 6 a 12 semanas após a última exposição à água doce para que os esquistossomas tenham tempo para se transformarem em adultos e para que os anticorpos sejam produzidos.
Pode-se diagnosticar a esquistossomose hepatoesplênica encontrando ovos nas fezes, tecido intestinal ou amostras hepáticas coletadas para biópsia com sensibilidade variável, uma vez que a eliminação dos ovos pode ser intermitente nesses pacientes. Normalmente, os exames séricos da função hepática são normais. A ultrassonografia pode mostrar fibrose periportal e esplenomegalia.
Diagnostica-se neuroesquistossomose se há infecção em um local extraneural, juntamente com evidências clínicas e radiográficas de envolvimento neurológico. Esquistossomas em amostras de biópsia de lesões do sistema nervoso central e/ou resultado positivo em teste de anticorpos ou reação em cadeia da polimerase do líquido cefalorraquidiano também são diagnósticos.
O Tratamento
Tratar com corticoide sistêmico ( Prednisona 20 a 40 mg por 5 dias) e, após resolução dos sintomas administrar Praziquantel ( 40mg/kg), repetindo 4-6 semanas depois.
Nos pacientes com ovos nas fezes ou urina no momento do diagnóstico da esquistossomose aguda ou crônica, deve-se examinar à procura de ovos vivos 1 a 2 meses após o tratamento. Um microscopista experiente pode diferenciar entre ovos viáveis e cascas vazias com base na presença de miracídio vivo. Indica-se novo tratamento se ovos viáveis estão presentes.
Prevenção da esquistossomose
Evitar cuidadosamente contato com água doce contaminada previne a esquistossomose.
A esquistossomose não é transmitida pela ingestão de água contaminada; no entanto, o contato da boca e dos lábios com a água contaminada pode levar à infecção.
Água doce utilizada para banho deve ser fervida durante pelo menos 1 minuto e então refrigerada antes do banho. Mas a água armazenada em um tanque por pelo menos 1 a 2 dias deve ser segura sem fervura.
Pessoas acidentalmente expostas à água possivelmente contaminada (p. ex., ao cair em um rio) devem se secar vigorosamente com uma toalha para tentar remover os parasitas antes que penetrem na pele.
A disposição sanitária de urina e fezes reduz a probabilidade de infecção.
Residentes adultos de áreas endêmicas são mais resistentes à reinfecção do que crianças, sugerindo a possibilidade de imunidade adquirida.
Tratamento da comunidade ou na escola com praziquantel, programas de educação e moluscicidas para diminuir as populações de caramujos é usado para controlar a esquistossomose nas áreas endêmicas.
O desenvolvimento de uma vacina está a caminho.