Estudo sugere que AINE em baixa dose pode prolongar a sobrevida no câncer de ovário

Por RAQUEL LUIZA,


O câncer de ovário é a mais mortal das neoplasias ginecológicas. Além de celularmente agressivo, o câncer de ovário não dispõe de métodos de rastreio amplamente disponíveis e estabelecidos como os existentes para rastreio de neoplasia mamária de colo uterino. Em função disso, parte considerável das pacientes recebe o diagnóstico já nos estágios três e quatro, quando a sobrevida em cinco anos já se encontra em apenas cerca de 29%.

A novidade é que um amplo estudo comportamental em pacientes com câncer de ovário conduzido por pesquisadores do QIMR Berghofer Medical Research Institute encontrou resultados que sugerem que o anti-inflamatório não hormonal (AINE) ácido acetil salicílico (AAS) em baixa dosagem pode beneficiar essas pacientes em termos de sobrevida. O estudo Ovarian cancer Prognosis And Lifestyle (OPAL) é uma coorte prospectiva de base populacional de 958 mulheres australianas com câncer de ovário recém diagnosticado.

No caso específico do estudo, foi investigada a existência entre o consumo de AINE e a sobrevida em cinco anos após o diagnóstico do câncer de ovário. O uso de AINE durante o ano pré-diagnóstico e pós-diagnóstico foi definido em grupos como nenhum ou uso ocasional (<1 dia/semana), pouco frequente (1-3 dias/semana) e uso frequente (?4 dias/semana).

Já a sobrevida foi medida desde o início do tratamento primário, ou seja, cirurgia ou quimioterapia neoadjuvante para análises de uso pré-diagnóstico, ou 12 meses após o início do tratamento, no uso pós-diagnóstico, até a primeira data de morte por câncer de ovário ou último acompanhamento com 5 anos. Efetivamente, em comparação com as não usuárias ou usuárias pouco frequentes, a sobrevida foi melhor no grupo que utilizou AINE (pré-diagnóstico, HR=0,73; IC=95% e pós-diagnóstico, HR=0,65; IC=95%).

As estimativas foram semelhantes para AINEs com aspirina e sem aspirina, no uso prévio ou após o diagnóstico, mas a maioria das usuárias de AINE efetivamente utilizou aspirina em baixa dose. Não foi encontrada correlação entre a utilização de paracetamol e modificações na sobrevida. Em termos temporais, a utilização de AINE em baixa dosagem no câncer de ovário significou um acréscimo de 2,5 meses na sobrevida em cinco anos após o diagnóstico, o que é significativo para esse tipo de neoplasia.

Segundo os autores, o estudo confirma dados de um estudo anterior no mesmo sentido. Ocorre que o estudo citado tinha problemas metodológicos que o estudo atual procurou consertar. Embora mais estudos e ensaios clínicos sejam necessários, a descoberta é importante por se tratar de uma medida barata e acessível com aparente benefício em uma doença de tão difícil condução.

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Fonte: https://doi.org/10.1093/jnci/djac239

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