Por RAQUEL LUIZA,
Cerca de 40% dos portadores de diabetes podem desenvolver insuficiência renal crônica. Até o momento, o marcador mais importante para o diagnóstico da nefropatia diabética tem sido a presença de albumina na urina (macroalbuminúria).
Entretanto, até metade dos pacientes diabéticos que terminam por desenvolver insuficiência renal crônica não mostram aumento da proteína urinária e por isso continuam sob risco.
A novidade é que pesquisadores da Universidade do Texas em San Antonio identificaram um marcador alternativo para a nefropatia diabética e com a vantagem adicional de ser ainda mais precoce. A publicação do grupo no Journal Of Clinical Investigation conta que o foco do trabalho foi a base nitrogenada adenina (ribonucleoproteína).
As conclusões do estudo foram baseadas na análise dos dados de três coortes com significativa diversidade e mais de 1.200 pacientes. A Coorte de Insuficiência Renal Crônica (CRIC) foi composta por afro americanos, hispânicos e caucasianos dos EUA, ao passo que as coortes do Estudo de Macroangiopatia e Reatividade no Diabetes Tipo 2 de Cingapura (SMART2D) e do Estudo Indiano Pima focaram em populações asiáticas. Houve ainda um estudo em indígenas americanos. Todas as coortes avaliaram a relação adenina/creatinina na urina (UAdCR) visando definir seu potencial como marcador de nefropatia diabética.
Como resultado, doença renal terminal e mortalidade foram associadas ao tercil UAdCR mais alto em CRIC (HR 1,57, 1,18, 2,10) e SMART2D (HR 1,77, 1,00, 3,12). A doença renal terminal foi associada ao tercil UAdCR mais alto em pacientes sem macroalbuminúria no CRIC (HR 2,36, 1,26, 4,39), SMART2D (HR 2,39, 1,08, 5,29) e no estudo Pima Indian (HR 4,57, IC 1,37-13,34). Tais achados levaram os pesquisadores para o laboratório, onde investigaram o papel funcional da adenina na nefropatia diabética utilizando modelos murinos.
Estudos de metabolômica espacial localizaram a adenina na patologia renal e a transcriptômica identificou a biogênese da ribonucleoproteína como uma via principal nos túbulos proximais de pacientes sem macroalbuminúria, implicando o alvo da rapamicina em mamíferos (mTOR). A empagliflozina, que funciona inibindo a função do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2) para reduzir a glicemia aumentando a eliminação de sódio e glicose, reduziu a UAdCR em participantes não macroalbuminúricos. Por fim, uma pequena molécula inibidora específica da produção de albumina endógena conseguiu proteger os rins de camundongos diabéticos de todos os aspectos da nefropatia diabética reduzindo a adenina sem alterar a glicemia.
Segundo os autores, a esperança é que a aplicação deste novo conhecimento possa originar uma estratégia de intervenção mais precoce e mais direcionada visando prevenir a insuficiência renal ou retardar ao máximo a sua ocorrência em portadores de diabetes.
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