Estudo associa tomografia em crianças e aumento do risco de neoplasia hematológica

Por Raquel Luiza,

O surgimento da tomografia computadorizada como alternativa de exame de imagem foi um inegável avanço em termos de diagnóstico. Atualmente, é um método indispensável que é realizado rotineiramente visando uma série de doenças e condições. Entretanto, trata-se um exame que submete o indivíduo que o realiza a uma dose de radiação ionizante ainda que com doses baixas (em torno de 8 mGy) e isso traz preocupações, principalmente em relação às crianças, cujo organismo ainda não completou o desenvolvimento.

Novo estudo multinacional encabeçado por pesquisadores do Instituto de Saúde Global de Barcelona trouxe dados que efetivamente reforçam essas preocupações ao associarem a realização de tomografia na população pediátrica ao aumento do risco de neoplasia hematológica. A publicação na revista Nature Medicine conta que estudos anteriores já sugeriram aumento do risco de câncer em crianças ao realizarem tomografias, mas tais estudos tinham sérias limitações técnicas.

Em função disso, a equipe líder organizou um esforço para extrair dados de registros radiológicos de 276 hospitais e ligá-los a registros populacionais e de câncer em nove países, mantendo ao mesmo tempo a confidencialidade dos dados dos indivíduos. Com isso, formou-se uma coorte multinacional (EPI-CT) de 948.174 indivíduos que foram submetidos a exames de tomografia computadorizada antes dos 22 anos de idade

As doses de radiação para a medula óssea ativa foram estimadas com base na parte do corpo escaneada, nas características do paciente, no período de tempo e nos parâmetros técnicos inferidos do aparelho de tomografia. O acompanhamento médio foi de 7,8 anos, mas pacientes que realizaram exames há muito mais tempo tiveram até 20 anos de acompanhamento.

Através do acompanhamento realizado, os pesquisadores encontraram uma associação entre dose cumulativa de radiação e risco de todas as malignidades hematológicas, com um risco relativo excessivo de 1,96 (intervalo de confiança de 95% 1,10 a 3,12) por 100 mGy, um total de 790 casos. Estimativas semelhantes foram obtidas para malignidades linfoides e mieloides.

Os resultados sugerem que para cada 10.000 crianças examinadas hoje com um exame de tomografia, espera-se que entre uma e duas delas desenvolvam uma malignidade hematológica atribuível pela exposição à radiação nos 12 anos subsequentes.

Segundo os autores, seus dados reforçam as evidências de aumento do risco de neoplasia associada à tomografia e a necessidade de ampla justificação para a realização desse tipo de procedimento, assim como de otimização de dose.

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Fonte: https://www.nature.com/articles/s41591-023-02620-0

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