Por Raquel Luiza,
A doença de Alzheimer é a principal causa de demência em todo o mundo. Mesmo com toda a pesquisa no tema, um tratamento eficaz ainda não está disponível. Apesar de ser uma doença multifatorial, o Alzheimer tem um importante componente genético.
Deste modo, um bom meio de pesquisa para entender a doença é observar os efeitos causados por determinadas mutações que sabidamente promovem maior risco. É exatamente nesse contexto um trabalho desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que desvendou como uma mutação de risco para doença de Alzheimer funciona sobre a micróglia no tecido cerebral. A publicação na revista GLIA conta que o foco do trabalho foi a mutação R47H/+ no gene que codifica a proteína TREM2.
No estudo, a equipe utilizou micróglia humana produzida a partir de células-tronco derivadas de células da pele. Foi utilizada técnica CRISPR para introduzir o gene mutante TREM2 R47H/+ nas células-tronco que depois foram cultivadas para se tornarem micróglia em grupos com e sem a mutação.
Esses dois grupos de células passaram então por análise de expressão gênica diferencial para verificar como a mutação introduzida por CRISPR influenciaria a expressão gênica nas células mutantes. Com essa estratégia, os pesquisadores descobriram que a mutação TREM2 R47H/+ promove importantes mudanças no funcionamento das células microgliais.
Foi descoberto que a mutação aumentou nas células mutantes a expressão de genes relacionados à inflamação e à resposta imune, sendo que essa maior reatividade e tendência pró-inflamatória foi confirmada por testes de exposição antigênica. Outra observação foi feita quando as células microgliais foram expostas a resíduos que devem depurar como mielina, proteínas sinápticas e proteína beta amiloide. Nesse caso, as células com a mutação foram muito menos eficientes na remoção desses detritos.
Outra função microglial é migrar em direção a células lesionadas. Os pesquisadores co-cultivaram células microgliais e neurônios lesionados e descobriram que as células mutantes foram menos propensas a exercer bem tal função.
Para testar como a microglia mutante atua em um cérebro vivo, os cientistas transplantaram microglia mutante ou de controle saudável no hipocampo de camundongos. Esse experimento revelou que os animais que possuíam microglia mutante apresentaram redução importante de proteínas sinápticas.
Segundo os autores, o conjunto de seus resultados destacam múltiplos efeitos da mutação TREM2 R47H/+ que provavelmente estão subjacentes à sua associação com o risco de Alzheimer e sugerem novas vias que podem ser exploradas para intervenção terapêutica.
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Fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/glia.24485