Incorporação da PrEP nas estratégias de prevenção ao HIV completa sete anos no SUS-DF

O uso dos medicamentos antirretrovirais é uma das ações da saúde pública para proteger a população contra a Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)

Por Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Débora Cronemberger

 

“Dá muito medo e muita vergonha também, porque a gente é muito orientado. Na inconsequência, na loucura, na bebida, no meio da emoção a gente acaba se descuidando”, desabafou o auxiliar de serviços gerais Fabiano Freire, 30, após ser contaminado por uma infecção sexualmente transmissível (IST). Sabendo dos serviços de saúde públicos por meio de amigos, ele se dirigiu ao Centro Especializado em Doenças Infecciosas (Cedin-DF), o antigo Hospital Dia localizado na 508 Sul, para receber atendimento.

A PrEP completa sete anos no Sistema Único de Saúde (SUS) e pode ser prescrita por qualquer médico ou enfermeiro do DF | Fotos: Tony Oliveira/Agência Brasília

“Infelizmente não me cuidei e acabei adquirindo algo que graças a Deus é curável. E, mesmo sendo inconsequente, a gente tem um ambiente tão bom e agradável para ser acolhido, isso é tão importante, poder ter uma estrutura como essa, acesso a um serviço gratuito de qualidade, onde os funcionários atendem muito bem. Principalmente para quem, assim como eu, não tem condições financeiras. É ruim a gente se contaminar com uma coisa e não saber para onde ir, porque eu não tenho um plano de saúde que oferece esse serviço”, completou.

Esse atendimento que acolheu Fabiano faz parte de uma grande rede de assistência. Entre as estratégias de saúde ofertadas pela rede pública do Distrito Federal, está a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), uma medida que combate o vírus que ataca o sistema imunológico e é causador da Aids.

A estratégia de prevenção é eficaz e segura em pessoas com risco aumentado de adquirir a infecção e consiste no uso de medicamentos antirretrovirais (ARV). Disponível gratuitamente na rede pública de saúde desde 2018 em Brasília, a PrEP completa sete anos no Sistema Único de Saúde (SUS) e atualmente pode ser prescrita por qualquer médico ou enfermeiro do DF.

Arte: Agência Brasília

À frente da Gerência de Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis, Beatriz Maciel Luz explica que o funcionamento dos comprimidos de PrEP e Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP) se dá no bloqueio de caminhos que o HIV usa para infectar o organismo. A partir do início da distribuição desse fármaco, em 2018, houve redução de novas infecções no DF – passando de 735 novos casos em 2018 para 674 em 2022.

“Desde o ano passado o governo vem ampliando o atendimento e o acesso ao medicamento, já liberados para algumas UBSs. Hoje qualquer profissional de saúde pode prescrever a PrEP no DF e, além das outras estratégias, também há a inibição de lactação das mulheres soropositivas, com a distribuição de fórmula para as crianças”, explica a gerente. Ela frisa que, com a ampliação do programa em 2023, novos estudos serão feitos para analisar a incidência de casos no DF.

Acesso às medicações

“A PrEP não é só uma distribuição de medicação, ela é todo um programa que abrange desde o aconselhamento até a identificação do risco do usuário”, diz o gerente do Cedin, Leonardo de Sousa Ramos

Tanto a PrEP quanto medicamentos estratégicos para pacientes com HIV são disponibilizados gratuitamente à população pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal que, em parceria com o Ministério da Saúde, desenvolve o programa de HIV/Aids.

Para ter acesso a medicação, os pacientes devem preencher os requisitos estabelecidos pelo SUS e se enquadrar no público-alvo, que engloba determinados segmentos populacionais que, devido a vulnerabilidades específicas, estão sob maior risco de se infectar pelo HIV, em diferentes contextos sociais e tipos de epidemia.

Os segmentos prioritários que têm indicação de PrEP são pessoas que frequentemente deixam de usar camisinha nas relações sexuais, homens que fazem sexo com outros homens, pessoas trans, trabalhadores do sexo, pessoas que fazem uso repetido da PEP e parcerias heterossexuais ou homossexuais nas quais uma das pessoas é infectada pelo HIV e a outra não.

Os documentos necessários para ter acesso aos medicamentos são o Formulário de Cadastramento de Usuário SUS – PrEP e a Ficha de Atendimento para PrEP. Acesse aqui.

Locais de retirada

Ainda que o atendimento e a prescrição possam ser efetuados em qualquer UBS, a retirada dos medicamentos é feita em lugares específicos da rede pública, sendo eles: Farmácia Escola, Policlínicas do Lago Sul, de Taguatinga e de Ceilândia e também o Cedin, que possui um ambulatório especializado de PrEP e funciona nas quartas-feiras das 7h30 às 11h e das 13h30 às 17h.

Algumas UBSs já fazem parte da ampliação do tratamento, como a UBS 1 de Sobradinho, a UBS 9 de São Sebastião, a UBS do Gama, a UBS 1 do Cruzeiro Novo, a UBS 2 do Recanto das Emas, a UBS 1 de Candangolândia e a UBS 7 de Ceilândia.

O gerente do Cedin, Leonardo de Sousa Ramos, afirma que há vagas abertas na unidade para atendimento da população mais vulnerável. O gestor lembra também que na última semana foi inaugurado o Espaço Saúde na Rodoviária do Plano Piloto, que oferece testagem rápida e kits de autoteste gratuitos para a população.

“A PrEP não é só uma distribuição de medicação, ela é todo um programa que abrange desde o aconselhamento até a identificação do risco do usuário. A partir disso, a gente poder dar orientação com relação ao combinado de medicação, camisinha, testagem regular e outras estratégias. Isso é interessante para que as pessoas que se encontram em vulnerabilidade e com risco de exposição procurem a unidade para se prevenir”, destacou Ramos.

Diferenças entre a PrEP e a PEP

Segundo a enfermeira do ambulatório PrEP e do CTA do Centro Especializado em Doenças Infecciosas, Leidijany Paz, todo ano mais de mil pessoas são diagnosticadas com HIV no DF

Com a PrEP sendo uma estratégia preventiva e planejada, a PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV) funciona como uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), que consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções.

Deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como violência sexual, relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha) ou, ainda, acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).

Por ser uma urgência médica, deve ser iniciada o mais rápido possível – preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição e no máximo em até 72 horas. A duração da PEP é de 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada pela equipe de saúde.

Para ter acesso aos medicamentos é necessário que o paciente passe por uma consulta médica em um serviço de pronto atendimento para que o médico avalie se há necessidade ou não de iniciar a PEP. Se constatada a necessidade, o médico deverá preencher o Formulário de Solicitação de Medicamentos – Profilaxia e os medicamentos serão dispensados nos próprios hospitais e UPAS que fazem parte da rede SES DF. Também é recomendado avaliar todo paciente com exposição sexual de risco ao HIV para um eventual episódio de infecção aguda pelos vírus das hepatites A, B e C.

No caso de acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico), o trabalhador acidentado deverá ser atendido imediatamente no seu local de trabalho, em conformidade com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pós-Exposição (PEP) de Risco à Infecção pelo HIV, IST e Hepatites Virais (BRASIL, 2018) e em cumprimento à Norma Regulamentadora nº 7 (BRASIL,1978).

A PEP está disponível no Cedin (antigo Hospital Dia); na Farmácia Escola do Hospital Universitário de Brasília (HUB); nas Policlínicas de Taguatinga, Ceilândia, Gama, Planaltina e do Lago Sul; nas emergências dos hospitais que fazem parte da rede SES-DF; nas unidades de pronto atendimento (UPAs) e nas unidades básicas de saúde (UBSs).

Para ter acesso aos medicamentos da PEP é necessário apresentar o documento de identificação com foto, o Cartão Nacional de Saúde – CNS (cartão do SUS) e o Formulário de Solicitação de Medicamento – Profilaxia.

Diferentes estratégias

É importante reforçar que a PrEP e a PEP fazem parte das estratégias de prevenção combinada do HIV. Dentro do conjunto de ferramentas da prevenção desta e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), inserem-se também:

→ A testagem para o HIV oferecida nas unidades de saúde da rede pública;
→ O uso regular de preservativos (que são distribuídos gratuitamente);
→ O diagnóstico oportuno e o tratamento adequado de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs);
→ A redução de danos e o gerenciamento de vulnerabilidades;
→ A supressão da replicação viral pelo tratamento antirretroviral;
→ As imunizações contra hepatites virais.

“É um serviço muito importante, tanto para mim quanto para os outros, porque a gente vem aqui, é bem atendido, o exame é rápido e já tem o resultado”, diz o aposentado Carlos Antônio de Lima

O Cedin abriga também o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Brasília, que funciona por demanda espontânea ou agendamento. De acordo com a enfermeira do ambulatório PrEP e do CTA da unidade, Leidijany Paz, todo ano mais de mil pessoas são diagnosticadas com HIV no DF.

“Esse número não precisava ser tão alto. Muitas vezes as pessoas chegam aqui preocupadas e ansiosas devido a uma exposição sexual desprotegida ou com alguma sintomatologia de IST. Aí ela passa pela coleta dos exames, pelo atendimento com um profissional que prescreve o tratamento e com certeza ela vai sair mais tranquila e orientada”, observa.

A enfermeira pontua também que a unidade oferece um aconselhamento nessa área, onde a é identificada a vulnerabilidade que a pessoa tem e orienta quais estratégias de prevenção ela pode estar lançando mão no seu dia a dia para se prevenir.

“É um serviço muito importante, tanto para mim quanto para os outros, porque a gente vem aqui, é bem atendido, o exame é rápido e já tem o resultado. Eu tenho diabetes, sou depressivo e, além de fazer o exame do HIV, eu acompanho com os médicos e faço meu tratamento certinho. Só temos a agradecer pelo SUS”, ressalta o aposentado Carlos Antônio de Lima, de 59 anos.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *