Por RAQUEL LUIZA,
Resulta da fibrose, formação de tecido de granulação e calcificação do pericárdio, que se torna uma espécie de concha rígida que aprisiona ambos os ventrículos, impedindo seu correto preenchimento na diástole.
Geralmente surge como evolução de pericardite aguda ou subaguda ou secundária a derrame crônico de etiologia tuberculosa.
O pericárdio é um saco fibrocolágeno em forma de cone que reveste o coração e contém uma pequena quantidade de fluido seroso fisiológico em quantidades normalmente <50mL. O pericárdio parietal normal tem propriedades elásticas e se distende para acomodar aumento no volume do líquido intrapericárdico. Um aumento na quantidade de fluido com o saco pericárdio resulta em aumento da pressão intrapericárdica.
A porção inicial da curva volume-pressão pericárdica é plana; assim, aumentos de volume relativamente grandes resultam em mudanças comparativamente pequenas na pressão intrapericárdica. A curva torna-se mais pronunciada à medida que o pericárdio parietal atinge os limites de sua distensibilidade. Se o fluido continua a se acumular, a pressão intrapericárdica eleva-se a um nível maior que o das pressões normais de enchimento das câmaras cardíacas direitas. Quando isso ocorre, o enchimento ventricular é restrito e pode ocorrer o tamponamento cardíaco, que será melhor explicado em futuras matérias.
Outra consequência possível é a pericardite constritiva, que resulta de lesão pericárdica e inflamação, resultando em espessamento fibroso das camadas do pericárdio, o que impede o preenchimento diastólico passivo das câmaras cardíacas. Na pericardite constritiva, o pericárdio se torna inelástico e não permite o enchimento cardíaco adequado; em geral, as efusões são subagudas ou crônicas.
Nos pacientes com pericárdio normal, a pressão intratorácica diminui durante a inspiração, levando a um aumento do retorno venoso para o coração direito e um aumento no tamanho do coração direito; em condições normais com o pericárdio elástico, não ocorre comprometimento no coração esquerdo, mas, em pacientes com pericardite constritiva, o pericárdio não se expande e, assim, fica prejudicado o enchimento do ventrículo esquerdo.
Os pacientes com pericardite constritiva comumente não apresentam efusão pericárdica, mas, em alguns casos, há efusão. Nesse caso, o termo correto é pericardite efusivo-constritiva; a diferença entre a pericardite constritiva com a efusivo-constritiva é que, após a pericardiectomia na pericardite efusivo-constritiva, permanece a pressão atrial aumentada.
SINTOMATOLOGIA
Existem sinais de comprometimento do estado geral, como fraqueza, astenia e anorexia, e de congestão venosa sistêmica.
Os pacientes com pericardite constritiva, 67% apresentam sintomas de Insuficiência Cardíaca (IC); 8% apresentam dor torácica; 6%, dor abdominal; 4%, arritmias atriais; e 5%, sintomas sugestivos de tamponamento cardíaco. Dos pacientes com pericardite constritiva, 93% apresentam aumentam da pressão venosa jugular. O exame das veias do pescoço com o paciente em um decúbito de 45ºs revela, frequentemente, uma distensão venosa jugular e uma rápida descida em “y” do pulso venoso cervical.
Na ausculta cardíaca, um atrito pericárdico diastólico precoce, que ocorre um pouco antes de uma terceira bulha cardíaca, que pode ser ouvida no ápice 60 a 120 milissegundos após a segunda bulha cardíaca. O atrito pericárdico soa como um galope ventricular, mas ocorre mais precocemente do que o S3 da IC, eventualmente palpável.
O som ocorre devido à entrada acelerada de sangue no VD no início da diástole e à distensão miocárdica precoce, seguida por uma abrupta diminuição da expansão ventricular. Outros achados frequentemente descritos são caquexia, edema periférico, hepatomegalia pulsátil e derrame pleural.
DIAGNÓSTICO
A radiografia de tórax pode revelar a presença de calcificações pericárdicas.
O ecocardiograma (ECG) permite observar espessamento pericárdico e alterações da função cardíaca. O (ECG) pode demonstrar complexos QRS de baixa voltagem, que ocorrem em 27% dos pacientes; ondas T invertidas e taquicardia sinusal são frequentes; já a fibrilação atrial ocorre em 22% dos pacientes, mas não há sinais diagnósticos específicos no ECG para o diagnóstico de pericardite constritiva eletrocardiograma.
Às vezes, o suporte de tomografia computadorizada ou ressonância magnética pode ser necessário para confirmar o diagnóstico.
O cateterismo mostra um padrão restritivo nas curvas de pressão intraventricular.
TRATAMENTO
O tratamento definitivo é a pericardiectomia ou decorticação do coração, que consiste na dissecção do pericárdio total ou parcial.
FONTE
Klein AL, Abbara S, Agler DA, et al. American Society of Echocardiography clinical recommendations for multimodality cardiovascular imaging of patients with pericardial disease: endorsed by the Society for Cardiovascular Magnetic Resonance and Society of Cardiovascular Computed Tomography. J Am Soc Echocardiogr 2013; 26:965.