Por RAQUEL LUIZA,
A pancreatite é uma inflamação grave do pâncreas que acontece quando as enzimas digestivas produzidas pelo próprio órgão são liberadas em seu interior, promovendo a sua destruição progressiva e levando ao aparecimento de sinais e sintomas como dor abdominal forte, enjoos e vômitos, febre e hipotensão.
Na maioria dos casos esta inflamação, é devido à obstrução do ducto biliar devido a cálculos ou alcoolismo. Outras causas incluem microlitíase, drogas e vírus.
De acordo com a duração e evolução dos sintomas, a pancreatite pode ser classificada em:
- A pancreatite aguda refere-se à inflamação do pâncreas que causa dor abdominal violenta súbita. O processo inflamatório pode envolver os órgãos/tecidos locais ou resultar na falência de órgãos à distância. É uma doença na maioria dos casos ligeira, não resultando em complicações. Numa reduzida percentagem de casos, cursa com um quadro clínico grave sendo acompanhada de falência de órgãos e necessidade de tratamento em cuidados intensivos, podendo resultar na morte dos doentes. Em todos os casos é fundamental identificar a causa da pancreatite e, se possível, tratar essa causa para evitar a recorrência.
- A pancreatite crónica diz respeito à destruição do pâncreas pela inflamação de longa data. A inflamação contínua resulta invariavelmente no desenvolvimento de insuficiência pancreática que corresponde à incapacidade do pâncreas funcionar normalmente.
Os doentes com pancreatite crónica necessitam de cuidados a longo prazo para minimizar os sintomas (sobretudo a dor abdominal), reduzir a progressão do dano estrutural do pâncreas e resolver as complicações.
SINTOMATOLOGIA
Os sintomas de pancreatite surgem quando as enzimas produzidas pelo pâncreas e responsáveis pela digestão dos nutrientes no intestino são liberadas no próprio pâncreas, inciando a digestão do próprio órgão e resultando no surgimento de sinais e sintomas como:
- Dor na parte superior do abdômen, podendo irradiar para as costas, que piora com o passar do tempo e após as refeições;
- Náuseas e vômitos;
- Inchaço e sensibilidade na barriga;
- Febre;
- Aumento dos batimentos cardíacos;
- Fezes amareladas ou brancas e com sinais de gordura;
- Perda de peso não intencional;
- Desnutrição, já que a digestão não é completa e os nutrientes não conseguem ser absorvidos pelo intestino.
Nos casos mais graves, pode ocorrer insuficiência renal. insuficiência cardíaca ou choque.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da pancreatite aguda pode ser difícil dado que os sinais e sintomas são comuns a outras condições clínicas. Baseia-se na história clínica e exame físico, associados aos resultados dos métodos complementares de diagnóstico, nomeadamente as análises laboratoriais (análises ao sangue) e os exames de imagem. O número e tipo de exames complementares de diagnóstico será adaptado à gravidade da pancreatite e à definição das suas causas. Esta estratégia garante o correto estabelecimento do nível de cuidados, tratamento necessário e a prevenção da recorrência.
Os exames laboratoriais mais frequentemente solicitados são o doseamento das enzimas pancreáticas (amilase e lipase).
Os exames de imagem servem para avaliar a estrutura do pâncreas (incluindo os seus ductos), as vias biliares e vesícula biliar e as restantes estruturas que rodeiam o pâncreas. A ecografia abdominal é o exame de imagem mais frequentemente utilizado dada a sua acessibilidade e não invasibilidade. Poderá em alguns casos justificar-se a realização da tomografia computorizada (TAC) a ressonância magnética nuclear (RMN) ou a CPRE.
A amilase está elevada acima de três vezes o limite superior do normal. Começa a aumentar em 2 a 12 horas e se normaliza na pancreatite, com boa evolução após 3 a 5 dias.
A lipase é mais específica, permanece por mais tempo e também deve exceder três vezes o limite superior da normalidade.
O estudo é concluído com uma ultrassonografia e tomografia axial computadorizada (TC) do abdômen. A classificação de Balthazar para pancreatite por TC está relacionada à gravidade, de forma que os graus D-E de Balthazar implicam em maior gravidade e maior percentual de necrose.
TRATAMENTO
Inicialmente, dieta absoluta e analgésicos são necessários.
Na pancreatite litiásica grave, a papilotomia endoscópica pode ser realizada nas primeiras 72 horas de evolução.
Deve ser realizada drenagem cirúrgica ou drenagem guiada por tomografia axial computadorizada dos abscessos, além de associação de antibioticoterapia.