Desenvolvimento da criança na primeira infância reflete na vida adulta

Bancos de leite do DF têm papel de apoio e orientação sobre a importância do aleitamento materno para os bebês

ADRIANA IZEL, DA AGÊNCIA BRASÍLIA I EDIÇÃO: DÉBORA CRONEMBERGER

O período inicial da existência de um ser humano, a chamada primeira infância, tem impactos profundos no futuro. Estudos apontam a relação entre a diminuição de chances de uma criança desenvolver certas doenças na fase adulta, caso ela tenha sido amamentada nos primeiros seis meses de vida.

O leite que chega até as unidades é separado, testado e pasteurizado antes de ser encaminhado para os bebês, num controle rigoroso de qualidade | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

“Hoje a gente sabe que a criança que é amamentada tem menos riscos de [ter] diabetes e hipertensão, doenças crônicas que vão sobrecarregar o serviço de saúde depois”, explica Miriam Santos, pediatra e coordenadora das Políticas de Aleitamento Materno e Banco de Leite Humano do DF. Por esse motivo, a médica diz que é importante disseminar o conhecimento em torno do tema: “A gente precisa trabalhar essa conscientização da importância do aleitamento materno”.

16.254Quantidade de litros de leite humano coletados no DF de janeiro a outubro

O leite materno é considerado o padrão ouro da alimentação infantil devido à quantidade de nutrientes e fatores de defesa e de desenvolvimento cerebral que são passados para o bebê. “É o melhor alimento que a criança pode receber”, acrescenta Miriam Santos. O aleitamento deve ser exclusivo nos seis primeiros meses de vida e complementado até os 2 anos.

Os bancos de leite do Distrito Federal têm como função apoiar, promover e proteger o aleitamento materno, auxiliando e organizando a coleta e dando orientação às mães e às doadoras. O leite que chega até as unidades é separado, testado e pasteurizado antes de ser encaminhado para os bebês, num controle rigoroso de qualidade.

Tatiene Soares dos Santos Ferreira e o filho Luigi Vinicius

Foi em uma visita ao banco de leite do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) que Tatiene Soares dos Santos Ferreira, 25 anos, mãe do pequeno Luigi Vinicius, de apenas 8 dias de vida, decidiu se tornar doadora. “Ele mama super bem e eu tenho muito leite. Tem vazado bastante. Tive a ideia porque existem mães que não têm muito leite e sabemos como o leite é essencial para o bebê crescer saudável”, afirma.

De janeiro até outubro, o DF coletou 16.254 litros de leite humano doado por 5.627 mulheres e que atenderam 11.574 crianças. O volume ainda é insuficiente para atender qualquer criança que necessite.

“Hoje a gente não tem ainda quantidade de leite para oferecer para qualquer bebê. Por isso é importante conscientizar as mulheres que elas podem ser solidárias com outras crianças”, completa Miriam. De acordo com a pediatra, um pote de 300ml é capaz de alimentar até 10 bebês.

Orientações

Além das coletas, os bancos têm o papel de informar e acompanhar mãe e bebê no processo de amamentação após a alta do hospital. “Às vezes, por causa da palavra ‘banco’, as pessoas pensam que é um lugar para depositar e retirar [leite]. Mas a principal função é ser uma casa de apoio à amamentação, para apoiar as mulheres nessa decisão”, comenta a médica.

Maria Aldeane Araújo Lourenço com a filha Yasmin

A babá Maria Aldeane Araújo Lourenço, 33 anos, é mãe de primeira viagem. Sua filha Yasmin tem apenas 4 dias. Apesar da experiência com crianças, ela conta que nunca tinha cuidado de uma recém-nascida. Mas as inseguranças acabaram quando ela teve o primeiro atendimento no banco de leite do HRT. “É bem melhor ter esse acompanhamento. Assim a gente fica mais à vontade com a criança e com o processo da amamentação”, conta.

Também é no banco de leite que as mães são orientadas, por exemplo, sobre os riscos da amamentação cruzada [quando uma mãe amamenta o filho de outra mulher], prática contraindicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Não aconselhamos porque existem doenças [infecto-contagiosas] que podem passar pelo leite humano [para o bebê]”, explica a pediatra Miriam Santos.

Doação

Toda mulher que amamenta é uma potencial doadora de leite humano. Para doar, basta ser saudável e não tomar nenhum medicamento que interfira na amamentação. A avaliação de saúde pode ser feita no próprio banco de leite. Para doar também é possível fazer o cadastro no Disque Saúde 160 ou no site e no aplicativo Amamenta Brasília.

O leite para doação deve ser armazenado em um frasco de vidro com tampa plástica do tipo maionese ou café solúvel. Antes da inclusão do líquido, o pote precisa ser fervido em água por 15 minutos.

Recomenda-se o uso de touca e lenço para cobrir os cabelos e fralda de pano ou máscara para cobrir nariz e boca durante o processo de coleta. As mãos e os braços devem ser higienizados com água e sabão, já a mama apenas com água.

Os frascos devem conter na tampa data e hora da coleta e precisam ser guardados imediatamente em freezer ou congelador, onde podem ficar por até 10 dias. A coleta é feita pelo Corpo de Bombeiros, que tem uma parceria com a Secretaria de Saúde do DF. Confira os pontos de coleta e os contatos para dúvidas.

Programa

A primeira infância é o foco do programa Criança Feliz Brasiliense, iniciado em 2019 no Distrito Federal. A proposta é estimular o desenvolvimento da criança e fortalecer os vínculos familiares. O público-alvo são gestantes e crianças de 0 a 3 anos do Cadastro Único, e crianças até 6 anos beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

“Nos primeiros anos de vida, a criança está na janela de oportunidades. É o momento mais importante da vida do ser humano. O retorno do investimento na primeira infância repercute na vida adulta”, explica Verônica Oliveira, coordenadora do Programa Criança Feliz Brasiliense.

O programa se desdobra em dois formatos: visita domiciliar e articulação intersetorial. São atendidas famílias que manifestam o interesse ou que são encaminhadas pelos serviços de assistência social do DF. O objetivo é acompanhar as demandas que afetam a condição de vida da família, como insegurança alimentar e financeira: “Temos um profissional, capacitado por nós, que vai até as casas para ouvir a família e sugerir caminhos e atividades para desenvolver a criança e o vínculo familiar”.

O segundo passo é o trabalho conjunto entre as instâncias com os Núcleos Intersetoriais da Primeira Infância existentes em todas as regiões administrativas do programa, com profissionais da assistência social, educação, saúde e conselho tutelar.

Atualmente, o programa atende 16 regiões. São elas: Samambaia, Santa Maria, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Riacho Fundo II, Estrutural, Ceilândia, Taguatinga, Paranoá, Gama, Itapoã, Varjão, Brazlândia, Fercal, Sobradinho e Planaltina. Foram atendidas 1.600 crianças em 2020 e a expectativa é de 3.200 em 2021.

O programa funciona com acompanhamento contínuo. As gestantes têm visitas todo mês. Famílias com crianças de 0 a 3 anos recebem os visitadores uma vez por semana. Enquanto no caso de crianças de 4 a 6 anos, elas ocorrem de 15 em 15 dias.

GALERIA DE FOTOS
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