Febre: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento.

Por RAQUEL LUIZA,

Febre: o que é, causa, tratamento, importância - Mundo Educação

O que é a febre?

febre, diferentemente do que muitos pensam, não é uma doença e deve ser encarada como um sinal de alerta de que algo não está bem em nosso corpo. Ela se caracteriza por ser uma elevação da temperatura do corpo a níveis superiores que os normais, e apresenta papel importante no combate contra infecções. Várias doenças apresentam a febre como manifestação clínica, sendo esse o caso da gripe, da COVID-19, da febre amarela e da malária.

A febre não é uma doença em si, sendo, geralmente, a manifestação de alguma enfermidade. A febre se caracteriza como um aumento da temperatura acima dos níveis considerados normais, (36,8 ± 4)

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Região onde a temperatura é medida:

Há vários tipos de termómetros: de vidro, digitais ou de infravermelhos. Os mais usados são os digitais, mas o essencial é usar corretamente.

  • Axilar: É o método mais usado e o mais prático, mas não é tão preciso como a medição retal. Basta colocar o termómetro em contacto com a axila e manter o braço firmemente apertado junto ao tórax durante alguns minutos. A partir de 37,5°C considera-se febre no adulto.
  • Boca : Coloca-se o termómetro sob a língua, com a boca fechada e aguarda-se um a dois minutos para que a leitura seja efetuada. Atualmente, também existem chupetas digitais para o efeito. Evite bebidas quentes ou frias 15 minutos antes da medição. A partir de 37,5°C considera-se febre no adulto.
  • Reto. É a medição mais precisa e indicada para os bebés. A técnica consiste em introduzir o termómetro no reto durante dois minutos ou até ouvir um sinal sonoro. A partir de 38°C considera-se febre.
  • Ouvido (tímpano). Cómodo e rápido, mas requer um termómetro próprio. A temperatura é mais elevada do que a medida na axila, mas está sujeita a grandes variações, inclusive entre os dois ouvidos. Convém fazer a medição sempre no mesmo ouvido e repeti-la. Pode ainda ser menos fiável em caso de excesso de cera ou otite. A partir de 37,7°C considera-se febre no adulto.
  • Vagina
  • Urina recentemente passada

A temperatura corporal depende de vários fatores, nomeadamente do local de medição. Nas crianças considera-se febre:

  • temperatura retal ≥ 38ºC;
  • temperatura axilar ≥ 37,6ºC;
  • temperatura timpânica ≥ 37,8ºC;
  • temperatura oral ≥ 37,6ºC.

Por questões de higiene, um termómetro digital ou de vidro que é usado para temperatura retal não deve ser usado para medir a temperatura oral e vice-versa. Por isso, é importante ter os termómetros devidamente etiquetados consoante a sua utilização.

Antes e depois de utilizar um termómetro lave-o com água fria e sabão, desinfete com álcool, volte a passá-lo por água fria e seque. Não se esqueça de guardar bem o termómetro depois de o utilizar, mantendo-o fora do alcance das crianças.Febre

 

Fisiopatologia da febre

É ma resposta adaptativa normal do cérebro, independente do gatilho, mediada por citocinas e prostaglandinas, e produzida por múltiplos processos que geram inflamação (infecciosa ou não).
A resposta febril é desencadeada por pirogênios exógenos e endógenos.

A febre ocorre pela ação de fatores pirogênicos sobre o centro termorregulador do hipotálamo, elevando o limiar térmico e desencadeado respostas metabólicas de produção e conservação de calor (tremores, vasoconstrição periférica,  aumento do metabolismo basal). Essa ação pode se dar por basicamente duas vias: a via humoral 1 e a via humoral 2.

via humoral 1 consiste na ativação dos receptores TLR-4 na barreira hematoencefálica pelos fatores exógenos (principalmente microorganismos). Estes pirogênios exógenos estimulam os leucócitos a liberar pirogênios endógenos como a IL-1 e o TNF que aumentam as enzimas (ciclo-oxigenases) responsáveis pela conversão de ácido araquidônico em prostaglandina. No hipotálamo, a prostaglandina (principalmente a prostaglandina E2) promove a ativação de receptores do núcleo pré-optico, levando ao aumento do ponto de ajuste hipotalâmico.

via humoral 2 pode ser direta ou indireta. No caso da via indireta, as citocinas irão ativar os receptores TLR-4 na barreira hematoencefálica, desencadeado toda a sequência descrita na via humoral 1. Já na via direta, as citocinas atuam diretamente no núcleo pré-óptico, aumentando o ponto de ajuste hipotalâmico.

Quando a temperatura ultrapassa o novo limiar, são desencadeados mecanismos de dissipação de calor (vasodilatação periférica, sudorese e perspiração) que tendem a reduzi-lá novamente. Desta forma,  na resposta febril a termorregulação é preservada, ainda que em nível mais elevado, mantendo-se inclusive o ciclo circadiano fisiológico (temperatura máxima entre 16 e 20hrs, mínima entre 4 e 6hrs).

Os principais pirogênios endógenos são as IL-1 e IL-6, o TNF e o IFN e, mais recentemente descritos, a IL-8 e o MIP-1. Já principais os pirogênios exógenos são os microorganismos intactos, produtos microbianos, complexos imunes, antígenos não-microbianos, drogas e outras agentes farmacológicos.

 

SINTOMAS

Sintomas Gerais: Astenia, dor indefinida, pele seca e quente, calafrios.
Sistema Nervoso: midríase, excitação ou depressão, pode haver delírio em crianças, alcoólatras e idosos. Em crianças pequenas, às vezes aparecem convulsões.
Sistema Respiratório: RF aumentada.
Sistema Digestivo: Língua seca e revestida.
Aparelho Cardiovascular: Aumento da Frecuência cardíaca – FC, podendo haver sopros, para cada grau que aumenta, a FC aumenta 8 bpm. Existem exceções como febre tifoide, drogas, brucelose e meningite onde há bradicardia.
Sistema urinário: oligúria com urina concentrada, pobre em cloro – Cl- e com excreções aumentadas de uréia, nitrogênio e creatinina.
Metabolismo Basal: Aumento, catabolismo proteico elevado, autoconsumo de carboidratos, gorduras e vitamina C.

 

O que causa a febre?

A febre é um dos principais motivos que levam as pessoas a procurarem um médico, principalmente quando afeta crianças. Como mencionado, a febre não é uma doença, e sim sintoma de alguns problemas de saúde.

Muitas vezes as causas da febre não são identificadas, entretanto, muito comumente ela está associada a doenças inflamatórias e infecções. A febre pode ser causada também por distúrbios autoimunes, distúrbios endócrinos, traumatismos, neoplasias, hemorragias, entre vários problemas.

 

O que é Hipertermia

Quando a temperatura esta superior a 41,5º

Causas da hipertermia:

  • Produção excessiva de calor (exercício prolongado e intenso, reações adversas a neurolépticos, anestésicos, tireotoxicose)
  • Dissipação de calor diminuída (golpe de calor)
  • Perda da regulação central (dano ao centro regulador hipotalâmico por trauma, hemorragia ou tumor)
  • Pele quente e/ou seca e falha antipirética.

Classificação

O modo de evolução pode ser avaliado através de um quadro térmico, com verificação da temperatura uma ou duas vezes por dia ou até de 4 em 4 horas, a depender do caso. Classicamente, são descritos os seguintes padrões evolutivos:

  • Febre Contínua: permanece sempre acima do normal com variações de até 1 grau, sem grandes oscilações.
  • Febre Irregular ou Séptica: picos muito altos intercalados baixas temperaturas ou apirexia, sem nenhum caráter cíclico nessas variações.
  • Febre Remitente: há hipertermia diária com variações de mais de 1 grau, sem períodos de apirexia.
  • Febre Intermitente: a hipertermia é ciclicamente interrompida por um período de temperatura normal. Pode ser cotidiana, terçã (um dia com febre e outro sem) ou quartã (um dia com febre e dois sem).
  • Febre Recorrente ou Ondulante: semanas ou dias com temperatura corporal normal até que períodos de temperatura elevada ocorram. Durante a fase de febre não há grandes oscilações.

Período do anfibólio:

É o período onde antes da declinação apresenta grandes oscilações, visto na febre tifóide.

 

SAIBA sobre a febre tifóide – RESUMO

É uma Febre Ondulante
Possui período anfibólio
Sem calafrios
Diminui a frequência cardíaca
Período de status de 15 a 20 dias

 

Conceitos

Febre prolongada: aquela que dura mais de 15 dias
Distermia: febre baixa com duração de meses ou anos, sem condição subjacente. É atribuída a uma alteração do centro termorregulador. Mais comum em mulheres jovens.
Recaída: novo início de febre em plena convalescença
Recorrência: Repetição da febre após um período de saúde mais ou menos prolongado.

  • Febre aguda (<15 dias de evolução) no paciente imunocompetente
    – infecção das vias aéreas
    -Infecção da pele e tecidos moles
    – Infecção das vias urinárias

A febre pode estar ausente em recém-nascidos, idosos, pacientes renais crônicos, usuários crônicos de corticosteróides.

 

Sinais de alerta

Sinais de alerta na febre:

  • Gestantes com febre
  • Febre iniciada loco após viagem recente à lugares com doenças endêmicas, como áreas com histórias de Malária.
  • Inicio de febre logo após alta hospitalar, procedimento cirúrgico, ou outro procedimento médico invasivo
  • Febre durante tratamento com quimioterapia ou outro tratamento imunossupressor (nesses casos, procurar atendimento médico em caso de Temperatura oral maior ou igual a 38ºC por mais de uma hora ou imediatamente após de:
    – Alcançar 38,3ºC)
    – Febre que dura vários dias ou vai embora retorna depois de haver ido embora
  • Febre após picada de inseto.
  • Febre em pessoas com saúde grave como: diabetes, doença cardíaca, câncer, lúpus eritematoso sistêmico ou anemia falciforme
  • Febre associada a algum dos sintomas abaixo:
    – Rash (manchas vermelhas na pele)
    – Falta de ar
    – Dor de cabeça severa ou dor na nuca
    – Crise convulsiva
    – Confusão mental
    – Vômitos severos ou diarreia
    – Dor intensa em barriga, costas ou lados.
    – Qualquer outro sintoma que não seja comum ou te incomode.

 

O Diagnóstico

O diagnóstico de febre é basicamente clínico, ou seja, a aferição da temperatura (37,5°C axilar/ 37,8°C oral/ 38°C retal) juntamente com os principais sinais e sintomas são suficientes. A anamnese e o exame físico somados ditarão a conduta, incluindo a necessidade de exames complementares e tratamento específico.

A investigação de outras queixas é de extrema importância para o diagnóstico da etiologia da febre. Alguns sintomas podem ser simplesmente associados ao quadro febril, como mialgia, cefaléia e fraqueza. Porém alguns outros já são mais indicativos da etiologia, por exemplo, tosse produtiva e dispnéia podem apontar uma pneumonia, bem como disúria pode apontar uma infecção urinária. Síndrome consumptiva pode ser uma indicação de um linfoma ou leucemia. Queixa articular pode ser compatível com um quadro de artrite reumatóide ou lúpus.

O padrão temporal também é muito importante para o diagnóstico da causa da febre. Febres terça e quartã estão relacionadas com malária (Plasmodium vivax e P. falciparum, respectivamente ), febre recorrente pode ser observada em pacientes com HIV, linfoma de Hodgkin ou outros linfomas.

Em boa parte dos casos de febre, os exames complementares não são de extrema importância, porém, nos casos em que são necessários, os exames devem ser dirigidos e condizentes com a suspeita diagnóstica. As situações em que mais se obtém benefício de exames complementares são as febres de origem indeterminada (FOI), apesar da alta prevalência de casos sem diagnóstico (40% dos casos, segundo a literatura).

FOI clássica  é caracterizada por temperaturas axilares maiores que 38,3 °C em várias ocasiões, febre com duração de mais de três semanas e impossibilidade de estabelecer um diagnóstico após três consultas ambulatoriais ou três dias de internamento hospitalar.

Na FOI nosocomial deve-se encontrar temperaturas acima de 38,3 °C em pacientes internados com ausência de infecção ou doença incubada à admissão, o pré-requisito mínimo é pelo menos três dias de internação com pelo menos dois dias de incubação de culturas.

FOI neutropênica é febre > 38,3°C naqueles pacientes que possuem neutófilos com valor absoluto menor que 500, ou nos quais exista expectativa de queda para tais valores em 1 a 2 dias.

FOI associada ao HIV é quando se encontra febre > 38,3°C em várias ocasiões em pacientes infectados pelo vírus HIV.

As principais etiologias da FOI são as infecções, neoplasias, doenças inflamatórias não-infeccioas e miscelânea. Sendo que causas de FOI mais frequentes são as tuberculoses extrapulmonares e miliares, abcessos (principalmente abdominais), síndrome de mononucleose, linfomas, leucemias.

 

O tratamento da febre

O tratamento da febre é feito utilizando medicamentos antitérmicos, como dipirona, paracetamol ou ibuprofeno. Vale salientar, no entanto, que, apesar desses medicamentos serem vendidos sem receita médica, eles não devem ser usados de maneira indiscriminada.

Muitas vezes, a febre não precisa ser tratada, e, em outros casos, o uso desses medicamentos pode fazer com que esse sintoma seja ignorado e não seja identificado seu verdadeiro motivo. De maneira geral, recomenda-se o tratamento da febre quando ela compromete o estado geral do paciente.

O foco do tratamento deve ser tratar a causa da febre e não apenas a febre isoladamente. Alguns autores trazem o fato de que em algumas doenças o padrão da febre pode ser muito útil para o diagnóstico e, por isso, não deveria tratá-la de imediato.

No entanto, devido ao aumento do consumo de oxigênio pelo organismo durante a febre e pelo fato de que uma redução na febre também controla sintomas como cefaleia, mialgia, artralgia e mal-estar, a indicação para o tratamento com medicações antipiréticas é válida. Não é necessário manter medicação de forma a evitar a elevação da temperatura no paciente (medicação de horário), basta deixar a medicação em uso de acordo com a temperatura.  Os principais antipiréticos são:

Dipirona: medicação bastante utilizada em nosso meio, apesar de ser preterida e até mesmo não disponível em outros países. Possui uma potente ação antitérmica e analgésica, porém não possui ação anti-inflamatória.

Paracetamol: droga mais utilizada no mundo para combate à febre. Tem ação antitérmica, antiinflamatória e analgésica. Apresenta risco de hepatotoxicidade (em geral se paciente fizer uso de  >4g/dia).

Ácido Acetilsalicílico (AAS): mais antigo dos antitérmicos. Possui ação antitérmica, antiinflamatória e analgésica. Atualmente, tem sido pouco utilizado no combate à febre. Contra-indicado em casos de dengue e história de hipersensibilidade; cautela com pacientes com história de sangramento por úlcera péptica, outros sangramentos e trombocitopenia.

* Síndrome de Reye: grave disfunção hepatocerebral, com alta letalidade, observada em certos indivíduos acometidos por certas doenças virais agudas (varicela, influenza) que recebiam AAS.

 

 

 

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