Por Raquel Luiza,
O que é ?
A Chikungunya é uma uma enfermidade infecciosa febril que pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus.
Essa doença possui sintomas de febre e erupção cutânea, associados à cefaleia, mialgia, e quadro de poliartrite e poliartralgia simétrica, intensa e debilitante, principalmente de pequenas articulações.
A fase crônica da Chikungunya é definida quando os sintomas de dores e/ou inchaços nas articulações permanecem após 3 meses do início do quadro.
Os dados mostram que entre 40 a 80% dos pacientes vão evoluir para a fase crônica, ou seja, é muito comum que isso aconteça!
Os fatores de risco (ou seja, quem tem mais chance) de ter a fase crônica são: idade maior que 40 anos, sexo feminino e doenças prévias nas articulações (como artroses). Dores em mais de 4 articulações (o que chamamos de poliartralgia), do lado direito e esquerdo (simétrica) que pioram em repouso e pela manhã (rigidez matinal) são os sintomas mais comuns. As dores podem ir e vir (intermitentes) ou serem contínuas (persistentes). Os locais mais afetados são os dedos das mãos, punhos, joelhos, tornozelos e dedos dos pés.
Quando existe inchaço e vermelhidão nas articulações é porque está ocorrendo uma ARTRITE que é muito semelhante ao que acontece na Artrite Reumatoide!
Artrite Reumatoide x Artrite Crônica da Chikungunya
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, SBR, a artrite reumatoide acomete 1% da população, cerca de 2,1 milhões de brasileiros.
Estudos revelam que entre 30 e 40% dos pacientes que tiveram a febre Chikungunya têm apresentado doenças reumáticas autoimunes, como artrite, fibromialgia, lúpus e esclerodermia. São duas fases da doença, na aguda, após cinco a seis dias da infecção começam a aparecer os sintomas: dor nas grandes articulações, punhos, mãos, joelhos, febre acima de 39º e dura cerca de 10 dias. Após três a quatro semanas, os sintomas podem se manifestar de forma leve na fase subaguda. Após três meses, já é crônica, porém, sem febre. A artrite reumatoide dificilmente apresenta febre.
A artrite crônica da Chikungunya se assemelha à artrite reumatoide no que diz respeito à sintomatologia e, portanto, deve ser tratada da mesma forma. No entanto, são classificadas separadamente devido ao agente causador. Do ponto de vista acadêmico, não pode ser considerada como artrite reumatoide, porque para isso, não poderia haver outra causa clínica, infecciosa ou autoimune que explique aqueles sintomas, são critérios diagnósticos. A artrite reumatoide é uma doença que não tem uma causa conhecida, há vários vírus implicados.
Em quem ocorre?
A doença afeta igualmente ambos os sexos e todas a idades. Entretanto, a gravidade dos quadros pode variar, sendo pior nos extremos: neonatos e idosos acima de 65 anos.
Quais são os sintomas?
Após o período de incubação de 10 dias, 3-28% dos pacientes são assintomáticos. Os demais apresentam febre alta, cefaleia, mialgia, naúseas e vômitos, rash cutêneo e conjuntivite. Mas o grande marco da doença é a artralgia incapacitante, uma poliartrite simétrica, principalmente em pés, mãos, tornozelos e punhos. Essa é a fase aguda da doença;
Outros sintomas são: formigamentos e dormências nas mãos (principalmente por conta da Síndrome do Túnel do Carpo), dor na coluna, alteração na circulação das mãos (Fenômeno de Raynaud), dores nos tendões, fadiga e até mesmo sintomas de depressão, devido ao grande impacto na qualidade de vida.
O acompanhamento com o reumatologista é fundamental pois nós somos os profissionais que temos mais experiência para tratar artrites crônicas.
A maioria dos pacientes melhoram após 10 dias. Uma parte dos pacientes evolui para doença crônica, com persistência de artrite por 3 meses, associada a rigidez matinal e edema articular.
Como é realizado o diagnóstico?
O exame laboratorial elisa é um teste de anticorpos com resultado rápido para a fase aguda. Na fase crônica, o diagnóstico é quando há o histórico da doença e com mais de três meses de sintomas.
O diagnóstico pode ser basado em alguns critérios como:
Critérios clínicos: início abrupto + febre > 38,5°C + artrite intensa aguda não explicada por outras condições médicas.
Critérios Epidemiológicos: visita a área endêmica ou epidêmica no prazo de 15 dias antes do início de sintomas ou contato caso confirmado.
Critérios laboratoriais: o diagnóstico é feito a partir da detecção de IgM para CHIKV ou aumento de 4 vezes no título de PRNT ( demonstração de anticorpos neutralizantes) entre a fase aguda e convalescente. Pode-se usar o isolamento viral ou PCR para detecção de RNA CHIKV.
Tratamento
Fase aguda: analgésicos comuns e/ou opioides fracos. Evitar AINEs e salicilatos, pelo risco de complicações hemorrágicas. Após o 7° dia, se afastada dengue, podem ser empregados.
Fase crônica: além dos anteriores, utiliza-se ainda corticosteroides ou Metotrexato, com Sulfassalazina como alternativa , isolada ou associada. Em casos refratários, anti-TNF podem ser usados.
Não se automedique com analgésicos e anti-inflamatórios pois você pode estar apenas “mascarando” a doença. Medicações anti-reumáticas específicas serão passadas pelo reumatologista além de um programa de reabilitação.
Referências
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das doenças transmissíveis. Preparação e resposra à introdução do vírus Chikungunya no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
- GOLDMAN, L; AUSIELLO, D. CECIL: Tratado de Medicina Interna . 24 ed. Rio de Janeiro: Saunders.
- IMODEN, J. B.,HELLMANN, D. B., STONE, J. H. Current Reumatologia: Diagnóstico e tratamento. São Paulo: McGraw-Hill, 2008.
- LONGO, D. et al. Medicina interna de Harrison. 18 ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
- MARQUES, Claudia Diniz Lopes, et. al Recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. Parte 2 – Tratamento. Revista Brasileirta de Reumatologua, 57 ( supl. 2), s438-s451. 2017.