Por Raquel Luiza,
Sinais e sintomas causados pela interrupção do uso de determinadas substâncias.
A crise de abstinência é resultado de uma adaptação neurológica do cérebro do usuário de drogas.
O sistema de recompensa cerebral, onde os neuro transmissores de prazer atuam, normalmente funciona de forma equilibrada, pois há um padrão genético em cada indivíduo.
É nele que temos prazer e saciedade em comer, beber e fazer sexo, ou seja, nosso centro do prazer.
O que é ?
A crise de abstinência é um grupo de sinais e sintomas que atinge o dependente químico, causando desconforto psíquico (irritação, angústia, depressão, agitação, etc.) .
Até fisico no caso de algumas drogas (alteração da frequência cardíaca e pressão arterial, tremores, diarréia e sudorese) que acontece quando há uma redução e/ou a diminuição do consumo recorrente e usual do abusador e do dependente químico.
Quanto maior o consumo, maior a crise.
Em que ocorre?
Usuários crônicos de drogas ( lícitas e ilícitas).
Por que um dependente químico tem crise da abstinência?
O cérebro que se adaptou ao uso de drogas considera a presença constante da droga e tenta se adaptar e obter um novo equilíbrio, mesmo com a presença do químico e a quantidade exacerbada de neurotransmissores e o prazer efêmero.
Assim muitas vezes o dependente químico busca o uso de drogas não para ficar louco, ou bêbado, e sim para obter e retornar ao equilíbrio mental e neural para voltar a realizar suas tarefas (físicas e cognitivas) habituais.
Algumas vezes, o álcool e drogas são usadas também para aliviar os sintomas da própria crise de abstinência, e isso é muito reconfortante, pois melhora imediatamente após a ingestão da droga.
A adaptação neuronal, quando há a presença de drogas, torna o sistema nervoso central mais sensível à abstinência ou a redução do uso.
Assim, estas adaptações, causarão os desconfortos psíquico e físico frente a falta das substâncias psicoativas. Estes desconfortos são conhecidos por crise de abstinência.
Com a saída das drogas, o sistema nervoso começa a ficar estimulado: eis o início dos sintomas de abstinência.
Quais sintomas aparecem?
O quadro depende da droga relacionada. A mais como, álcool, cursa com: tremor, alucinações , hipertermia, irritabilidade, sudorese e náuseas.
Nicotina: fadiga, náuseas, cefaleia e desatenção.
Opióide: ansiedade, sudorese, vômitos, diarreia.
O uso de droga e a crise de abstinência: um ciclo vicioso
O processo da crise de abstinência é cíclico e se torna vicioso. Ele inicia com o consumo de álcool ou drogas que provoca alterações no sistema de recompensa cerebral, através de seus efeitos agudos, então frente ao uso frequente e prolongado da substância, o organismo provoca neuroadaptações. São elas:
- A adaptação de Oposição: que é um mecanismo que tem como objetivo derrotar os efeitos da droga fazendo uma força contrária dentro das células.
- A adaptação de prejuízo: o corpo cria um mecanismos para dificultar a ação das drogas por cima das células, este processo é feito através da redução do número de neuroreceptores (dow regulation) que reduz a eficiência do corpo na sua capacidade de ter prazer.
Estas neuroadaptações tem a finalidade de recuperar o equilíbrio perdido, criando assim a tolerância no organismo do dependente químico. Então, o dependente para ou diminui o uso de drogas ou álcool, com esta interrupção do consumo, a adaptação neurológica aparece, fazendo surgir uma sintomatologia no sentido oposto aos efeitos da droga. É a crise de abstinência, que durará enquanto o equilíbrio anterior (sem drogas) não for restabelecido.
Esta adaptação durará enquanto tiver a abstinência, contudo o retorno ao uso fará todo o ciclo começar novamente, fazendo os efeitos agudos ressurgirem e voltar ao ciclo vicioso.
Quanto maior a tolerância, maior será a crise de abstinência
Tolerância: é a capacidade das células de se adaptarem a atuação da droga, para que possam voltar a uma função aparentemente normal.
Assim será necessário um consumo maior de drogas para produzir os mesmos efeitos e perturbações funcionais que foram produzidas na primeira exposição da célula à droga.
A tolerância é uma adaptação celular ao consumo de drogas, e a adaptação se torna tão intensa que a célula não funciona normalmente na ausência da substância psicoativa.
Assim, uma perturbação funcional (síndrome de abstinência) ocorrerá quando a droga é suprimida.
Crises de Abstinência causadas por drogas depressoras do SNC (álcool, fármacos, maconha, etc.)
Os depressores do Sistema Nervoso Central causam síndrome de abstinência com características clínicas semelhantes. Elas diferem quanto ao início de apresentação, dependendo de sua meia-vida.
Para as substâncias com meia vida mais curta, os sintomas de abstinência iniciam-se antes do que para aquelas de meia-vida prolongada.
Estas, por sua vez, tendem a causar sintomas menos intensos, uma vez que o organismo teria mais tempo para reajustar sua homeostase (equilíbrio do SNC) quando o tempo para a eliminação da droga é maior.
As principais características clínicas da crise de abstinência das drogas deste grupo refletem uma hiperatividade autonômica (aumento da temperatura corpórea, aumento da frequência do coração e da respiração, aumento da pressão arterial, suor excessivo) associada à ansiedade, insônia, tremor e agitação.
Estes sintomas podem ser leves, moderados ou graves. Nestes últimos, os sintomas são mais intensos e associam-se a alucinações visuais e/ou auditivas, sendo as visuais mais frequentes. Os pacientes geralmente ficam bastante agitados e assustados.
Em alguns casos, o quadro pode evoluir com rebaixamento do nível de consciência, manifestado por desorientação têmporo-espacial e confusão mental.
Geralmente há aumento da pressão arterial, da temperatura corpórea e vômitos. Todos os pacientes neste estágio, conhecido como delirium tremens, devem ser hospitalizados.
A taxa de mortalidade varia de 2 a 5%, geralmente por falência cárdio-respiratória. Convulsões podem ocorrer em qualquer estágio das crises de abstinência, mas acontecem com mais frequência nas primeiras 72 horas.
O tratamento farmacológico da abstinência das drogas deste grupo consiste na administração de substâncias com tolerância cruzada, tal como diazepam, e posterior retirada gradativa.
Locais de tratamento da crise de abstinência
Usuários com crise de abstinência podem ser tratados em hospitais, em clínicas especializadas para a dependência química que provem as internações, quanto em ambulatórios. Não há como garantir com toda a eficácia qual o ambiente é o mais indicado, pois ele depende do paciente, da droga utilizada e do nível de dependência de cada usuário.
Precisamos deixar claro que a crise de abstinência pode, principalmente no álcool, assim como outras drogas, colocar o dependente em risco de óbito, e assim, deve ser tratada em internações em hospitais ou clinicas especializadas, e o mesmo precisa de acompanhamento médico 24 horas, pois o dependente precisa ser assistido em tempo integral.
A crise de abstinência é acompanhada por distúrbios ou doenças clínicas e psiquiátricas, e com isto aumentar os sintomas da crise de abstinência e comprometer a evolução do tratamento.
Assim o cuidado médico precisa perceber e tratar estas enfermidades para um estado de melhora geral do paciente.
Estas possíveis doenças clínicas e psiquiátricas devem ser detectadas a partir da anamnese com exames físicos complementando com os exames laboratoriais e entrevistas psiquiátricas, psicológicas e terapêuticas.
Quanto tempo dura uma crise de abstinência?
O tempo da crise de abstinência, dura em média 4 a 6 semanas, mas os sinais
e sintomas da crise de abstinência vão variar de acordo com:
- A substância utilizada;
- O tempo transcorrido desde a última dose;
- A taxa de eliminação e meia-vida da substância em questão;
- A existência ou não de quadros clínicos ou psiquiátricos concomitantes (comorbidades);
- Características biológicas e psicossociais do indivíduo;
Como evitar crises de abstinência?
Uma crise de abstinência está ligada à necessidade do dependente de consumir aquela droga diária, que já faz parte da sua rotina e que seu corpo se encontra habituado.
Sendo assim, sendo identificada a dependência química, uma das melhores decisões é o processo de reabilitação através da internação. Durante esse processo de abstinência o paciente é trabalhado em sua saúde mental, física, social e ocupacional. Além disso, a pessoa aprende a construir e colocar em prática hábitos saudáveis que a ajudem em sua nova qualidade de vida e, assim, crises podem ser evitadas.
Evite lugares frequentados por usuários de drogas
O ideal para quem está em processo de recuperação, é evitar lugares em que existe o consumo frequente de drogas. Com isso, a pessoa que se encontra em recuperação, precisa construir um novo estilo de vida, que o auxilie a se manter na abstinência.
Evitar lugares que possuem usuários, também faz parte do final do tratamento de internação do dependente químico e se mostra tão importante quanto continuar a frequentar atendimentos psicológicos, médicos e manter a qualidade de vida.
Tenha uma alimentação saudável
Um dependente químico quando consome drogas fica com sua nutrição debilitada, uma vez que a mesma pode fazer com que a pessoa perca o seu apetite. Assim como a alimentação é fundamental na vida de todos, com o dependente químico não é diferente.
A alimentação é extremamente importante para que o indivíduo consiga repor os nutrientes que estão em falta no seu organismo.
Com uma alimentação saudável, o corpo é capaz de se recuperar das agressões causadas pelo uso das substâncias químicas. Pois, através da alimentação, ele estará mais bem disposto para continuar em processo de manutenção da abstinência de drogas e se manter em tratamento.
Faça atividades físicas
A serotonina e a dopamina são hormônios que causam grande satisfação e alívio, e muitas delas são encontradas quando usam-se drogas que estimulam uma alta produção dessas substâncias.
Com a atividade física, esses hormônios, junto com a endorfina, são produzidos em altos níveis, de maneira saudável, com a prática regular de exercícios físicos. Além dela aumentar o metabolismo e diminuir o cortisol, também nos traz de volta um condicionamento físico benéfico à saúde, para que possa existir assim uma melhor qualidade de vida.
Encontre um hobby
Um hobby pode acabar sendo muito benéfico para o dependente químico, fazendo com que ele possa enxergar e descobrir novas atividades que o auxiliem na manutenção da abstinência.
Qualquer hobby é válido, podendo ser relacionado à arte/criação, como pintura, artesanato, escrita, música etc. Bem como praticar um esporte, ler livros, assistir a filmes ou algo que seja prazeroso para quem se encontra nesse processo de recuperação. O que pode ajudar a fazer com que a pessoa sinta satisfação na execução daquela atividade, tirando o foco da abstinência.
Cumpra pequenas tarefas diárias
Ao cumprir pequenas tarefas do dia a dia, o indivíduo em processo de recuperação pode acabar criando uma rotina para si, conseguindo organizar o seu próprio ambiente, o que pode ser útil para que ele se sinta ainda mais motivado.
E cumprindo as tarefas cotidianas o paciente também consegue ocupar sua mente, consegue se dar uma funcionalidade, podendo gerar um sentimento de utilidade. O que pode ser realizado tanto para si próprio quanto em prol das outras pessoas, o auxiliando em seu processo de reinserção social.