Por RAQUEL LUIZA,
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 147 milhões de pessoas, ou 2,5% dapopulação mundial, utilizam maconha, ou marijuana, ou canabinoides sintéticos.Nos Estados Unidos, existem cerca de 22,2 milhões usuários mensais de maconha entre pessoas com 12 anos ou mais velhas, seguido pelo uso de analgésicos (3,78milhões), cocaína (1,88 milhão) e sedativos (1,87 milhão).
Estudos recentes noColorado (EUA), onde tanto o uso medicamentoso como recreacional da maconha foi descriminalizado e depois legalizado, revelaram aumento de quase duas vezes na prevalência da intoxicação por canabinoides no departamento de emergência (DE). Apesar da controvérsia relacionada à paucidade de evidências de benefícios da Cannabispara qualquer indicação médica, seu uso para fins médicos foi documentado já em 600 a.C. Ao longo da história, o uso de Cannabis para fins medicinais incluiuo tratamento de enxaqueca, distúrbios convulsivos, distúrbios tetânicos/ espásticos,doenças reumatoides, neuralgia do trigêmeo, asma e insônia. Atualmente, Cannabise canabinoides estão sendo usados no tratamento de síndromes de dor crônica,complicações de esclerose múltipla, paraplegia, perda de peso ocasionada pela perdade apetite em pacientes com HIV/aids, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia e distúrbios neuropsiquiátricos. Ainda assim, inexistemevidências de alta qualidade para apoiar o uso de Cannabis e canabinoidespara qualquer uma dessas indicações.
O que é ?
Ocorre no uso abusivo de maconha.
Em quem ocorre?
Usuários da droga que fazem uso abusivo.
Quais são os sintomas?
Pacientes experienciam relaxamento, desatenção, alucinações e amnésia, além de taquicardia, hiperemia conjuntival, polifagia, nistagmo.
Devido àampla distribuição de receptores, o uso de Cannabis e como ossubstratos canabinoides podem ter efeitos variados. As manifestações clínicas são dependentes da idade, com crianças apresentando sonolência diurna,irritabilidade e alteração de comportamento. Adultos, com maior frequência, têm alterações de sinais vitais, como taquicardia, taquipneia, aumento da pressão arterial, hiperemia conjuntival e aumento de apetite. Como os receptores RC estão concentrados no SNC, eles exercem a maioria dos efeitos nos sistemas neuropsiquiátricos. A rapidez de concentração plasmática de pico com o uso de Cannabis varia conforme a via do uso, com sintomas em 3 a 10 minutos por via inalatória,em 2 a 6 horas por via oral, em 1 a 2 horas por via subcutânea e em 2 a 8 horas por via retal.
Usuáriosde Cannabis que fumam pelo menos uma vez por semana têm risco 3,3 vezes maior de AVC e/ou ataque isquêmico transitório (AIT). Existem evidências de qualidade moderada indicando que pode haver aumento dependente da dose em relação ao risco de AVC/AIT associado ao uso de Cannabis. Isso requer grande quantidade de uso de Cannabis, levando a vasoespasmo cerebral e redução no fluxo sanguíneo cerebral.
Vários estudos têm mostrado associações estatisticamente significativas entre psicosee uso de Cannabis. A maioria dos estudos tenta mostrar relação de causalidade entre o uso de Cannabis e psicose de instalação aguda. Parece haver alguma associação entre uso de Cannabis de alta potência e canabinoides sintéticos no aparecimento de psicose nova ou recidiva em pacientes com transtornos psiquiátricos. Existem dados fracos mostrando correlação entre o uso de Cannabise a depressão, mas são necessárias mais pesquisas nessa área.
Aumentos da frequência cardíaca em repouso em 20 a 100% do basal podem ser vistos em associação com o uso de Cannabis em doses altas. Outros achados incluem hipertensão, hipotensão postural e potencial para diminuir o limiar anginosodos pacientes com angina estável crônica como resultado de carboxi-hemoglobinemia,e um estudo mostrou risco aumentado de infarto do miocárdio na primeira hora do uso de Cannabis. Esse risco aumentado não é evidente nas horas subsequentes de uso. Depois da hora inicial de uso, o risco de infarto do miocárdioagudo retorna ao basal. Arritmias, incluindo fibrilação atrial, taquicardia ventricular ,padrões de Brugada, assistolia e morte súbita cardíaca, também foram documentadasem intoxicações agudas.
Entre asanormalidades metabólicas causadas pelo uso de canabinoides, pode haver hipertermia,hipoglicemia, hipocalemia, hiponatremia e acidose metabólica. A sensação de boca seca pode ser manifestação na intoxicação aguda por Cannabis. Seu uso crônico tem sido associado a periodontite grave. Pacientes podem apresentar hiperemia conjuntival com o uso agudo de canabinoides. A Cannabis pode diminuir a pressão intraocular. Existem relatos de complicações raras, como glaucoma agudode ângulo fechado e oclusão da veia central da retina.
Como é realizado o diagnóstico?
Diagnóstico clínico!
Caso não haja cooperação do paciente na obtenção da história, pode ser feito um exame toxicológico.
Tratamento
Baseada no tratamento de suporte e sintomáticos. Considerar antipsicóticos se sintoams neuropsiquiátricos graves.
O tratamento da intoxicação por maconha quase sempre é desnecessário; para pacientes que experimentam desconforto significativo, o tratamento é de suporte. Pacientes com a síndrome de hiperemese canabinoides podem exigir hidratação IV e antieméticos (relatos sugerem que haloperidol e capsaicina tópica são eficazes). O tratamento definitivo da síndrome de hiperemese canabinoide é a cessação do uso de maconha.
O manejo do abuso consiste tipicamente em terapia comportamental em programa de tratamento ambulatorial para drogas.
Referências
1-Williams MV. Cannabis: Emerging evidencein use and abuse. EB Medicine August 2018.
2- Grotenhermen F. Pharmacokinetics and pharmacodynamics ofcannabinoids. Clin Pharmacokinet 2003; 42:327.