Por Raquel Luiza,
Outubro, mês considerado ao combate do câncer de mama.
A medicina preventiva nunca teve um futuro tão promissor. Os anseios das operadoras de saúde, planos governamentais e a expectativa dos próprios pacientes estão cada dia mais alinhados quanto a necessidade de medidas de proteção. Se por um lado, as operadoras e o governo estão interessados no diagnóstico precoce e com isso diminuir os gastos exorbitantes com doenças em fase mais avançadas, o paciente também se beneficia em morbimortalidade da descoberta mais precoce de certas condições. Apesar disso, ainda é modesto a quantidade de médicos e pacientes que se dedicam e logram êxito nesta abordagem. Entretanto, para realmente afirmar que aquele diagnóstoco mais precoce ocasionará em benefício para o doente é necessário extensa pesquisa e revisão de literatura, visto que a descoberta mais precoce de uma enfermidade pode vir acompanhada de maior morbidade. Desta forma, escrevo sobre os principais screenings à luz atual da medicina baseada em evidências.
O rastreamento de câncer baseado em evidências, simplificadamentee, rastreamento é a procura por doenças ou fatores de risco de uma doença, em pessoas que não têm sinais e sintoams dessa doença; É a realização de testes e rotina em indivíduos assintomáticos, para detecção precoce de determinada alteração ou doença. É importante entender que, ao utilizarmos o termo rastreamento , não nos referimos apenas a um único teste ou exame, envolve toda a sequência de eventos necessária para atingie a desejada redução de risco. seja risco de morrer em virtude do câncer, seja em alguns casos o de desenvolver o determinado câncer.
O rastreio do câncer de mama é dividido em três formas:
- Mulheres 40- 49 anos: devem realizar exame clínico das mamas, ecografia anualmente.
- Mulheres 50-59 anos: Exame anual e mamografia a cada 2 anos.
- Mulheres > 35 anos com risco elevado: Mamografia anualmente
Pacientes com risco elevado de câncer de mama:
- Paciente de primeiro grau com diagnóstico < 50 anos.
- História familiar de câncer de mama bilateral ou câncer no ovário em qualquer idade.
- História familiar de cãncer de mama em homem.
- Lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ.
- História prévia de câncer de mama.
- Paciente com risco de Gail maior ou igual a 1.7% de desenvolver câncer de mama em 5 anos ( a partir dos 35 anos de idade).
- Mulheres com risco maior que 20% de desenvolver câncer de mama ao longo da vida ( “lifetime risk”) com antecedentes de carcinoma lobular in situ ( CLIS) ou hiperplasia ductal atípica ( HDA) ou hiperplasia lobular atípica ( HLA).
- Mulheres com risco maior que 20% ao longo da vida ( “Life-time risk”) baseado em modelos que utilizam variáveis da história familiar ( modelos de CLAUS, BOADICEA, BRCA-PRO, Tyer-cruzik).
- Mulheres que receberam previamente irradiação no tórax com menos de 30 anos de idade.
- Pacientes com mutação conhecida que aumentam risco de câncer de mama ou com história familiar sugestiva. (Estas pacientes devem ser encaminhadas à geneticista para aconselhamento genético, se este profissional estiver disponível).
Mulheres devem passar por triagem para câncer de mama (1, 2). Todas as sociedades profissionais concordam com esse conceito, embora difiram quanto à idade recomendada na qual iniciar a triagem e a frequência precisa da triagem.
Modalidades de triagem incluem
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Mamografia (incluindo digital e 3-D)
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Exame clínico das mamas (ECM) por profissionais de saúde
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Exames de imagem por ressonância magnética (RM) para paciente de alto risco
Mamografia
Na mamografia, radiografias de baixa dosagem de ambas as mamas tiradas em 2 incidências (oblíqua e craniocaudal).
A mamografia é mais precisa em mulheres com mais de 50 anos, em parte porque, com o envelhecimento, o tecido fibroglandular das mamas é substituído por gordura, que pode ser diferenciada mais facilmente do tecido anormal. A mamografia é menos sensível em mulheres com tecido mamário denso, e alguns estados exigem que as pacientes sejam informadas de que têm tecido mamário denso quando ele é detectado por mamografia. Mulheres com tecido mamário denso podem exigir exames de imagem adicionais [p. ex., tomossíntese mamária (mamografia 3D), RM].
As diretrizes para mamografia de triagem em mulheres com risco médio de câncer de mama variam, mas, geralmente, inicia-se a triagem aos 40, 45 ou 50 anos e é repetida a cada um ou dois anos até os 75 anos ou uma expectativa de vida de < 10 anos . Os médicos devem certificar-se de que as pacientes entendem qual é o risco individual de câncer de mama e perguntar quais testes elas preferem.
Pode-se usar a Breast Cancer Risk Assessment Tool (BCRAT) ou o modelo de Gail Model para calcular o risco em 5 anos de mulheres desenvolverem câncer de mama ao longo da vida. Considera-se que o risco médio durante a vida de uma mulher desenvolver risco de câncer de mama é < 15%.
Preocupações sobre quando e quantas vezes fazer a triagem mamográfica incluem
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Taxa de resultados positivos falso-positivos
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Riscos e custos
Apenas 10 a 15% das anormalidades detectadas em mamografias de rotina resultam de câncer— a taxa de falso-negativos é 85 a 90%. Resultados falso-negativos podem exceder a 15% (3). Muitos dos falso-positivos são causados por lesões benignas (p. ex., cistos, fibroadenomas), mas há preocupações sobre a detecção de lesões que atendem as definições histológicas de câncer, mas não para a evolução em câncer invasivo durante a vida de uma paciente.
Tomossíntese mamária (mamografia 3D), feita com mamografia digital, aumenta ligeiramente a taxa de detecção de câncer e diminui a taxa de repetição das imagens (4); esse teste é útil para mulheres com tecido mamário denso. Mas o teste expõe às mulheres a quase duas vezes mais radiação do que a mamografia tradicional.
Embora a mamografia utilize baixas doses de radiação, exposição à radiação tem efeitos cumulativos sobre o risco de câncer. Quando inicia-se a triagem radiológica em uma idade jovem, o risco de câncer é maior.
Exame de mama
O exame clínico de mama (ECM) geralmente é parte dos cuidados de rotina anuais para mulheres > 40 (1). Nos Estados Unidos, o EMC aumenta em vez de substituir a triagem mamográfica. A American Cancer Society e a US Preventive Services Task Force não recomendam o rastreamento com exame clínico da mama (ECM); o American College of Obstetricians and Gynecologists recomenda aconselhar as pacientes sobre as limitações diagnósticas (1, 2). No entanto, em alguns países onde a mamografia é considerado muito cara, o ECM é a única triagem; relatórios sobre sua eficácia nesse papel variam.
O uso isolado do autoexame de mama (AEM) como método de rastreamento não demonstrou benefícios e pode resultar em taxas mais altas de biópsia de mama desnecessária. As principais organizações profissionais não a recomendam como parte do rastreamento de rotina. Entretanto, deve-se aconselhar as mulheres acerca da autopercepção da mama e, se observarem alterações na aparência ou na percepção das mamas (p. ex., massas, espessamento, aumento de volume), elas devem ser incentivadas a fazer uma avaliação médica.
Ressonânia Magnética
Usa-se RM para rastreamento de mulheres com alto risco (p. ex., > 20%) de câncer de mama, como aquelas com uma mutação genética BRCA. Para essas mulheres, a triagem deve incluir RM, bem como mamografia e ECM. A RM possui maior sensibilidade, mas pode ser menos específica. Pode-ser recomendar RM para mulheres com tecido mamário denso como parte da avaliação geral que inclui a avaliação de risco.
Indicações para Ressonância Magnética da Mama
- Mutação BRCA
- Familiar de primiro grau com mutação BRCA
- Risco vitalício de CA de mama > 20%
- Radiação torácica entre 10-30 anos.
- Síndrome de Li Fraumeni
- Síndri=ome de Cowden
Sinais e sintomas do câncer de mama
Muitos cânceres de mama são descobertos como uma massa detectada pela paciente ou durante um exame físico de rotina ou uma mamografia. Raramente, o sintoma de apresentação é aumento da mama ou espessamento indefinido da mama. Pode haver dor na mama, mas este quase nunca é o único sintoma inicial de um câncer de mama.
Alguns tipos de câncer de mama se manifestam com alterações cutâneas notáveis:
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Doença de Paget do mamilo está associada a um carcinoma invasivo in situ ou subjacente e se manifesta como alterações cutâneas, incluindo eritema, crostas, descamação e secreção; essas alterações geralmente parecem tão benignas que o paciente as ignora, adiando o diagnóstico por um ano ou mais. Cerca de 50% das pacientes com doença de Paget do mamilo têm uma massa palpável na apresentação.
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Câncer de mama inflamatório manifesta-se como eritema e aumento da mama, geralmente sem uma massa, e a pele pode apresentar descoloração ou espessamento, lembrando casca de laranja (peau d’orange). Secreção mamilar é comum.
Algumas pacientes com câncer de mama apresentam sinais de doença metastática (p. ex., fratura patológica, dor abdominal, icterícia, dispneia).
Um achado comum durante o exame físico é uma massa dominante ou assimétrica — uma massa distinta do resto do tecido mamário. Alterações fibróticas difusas em um quadrante da mama, geralmente no quadrante superior externo, são mais características de distúrbios benignos; espessamento um pouco mais firme em apenas uma mama pode ser sinal de câncer.
Cânceres de mama mais avançados são caracterizados por um ou mais dos seguintes:
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Aderência da massa à parede torácica ou pele sobrejacente
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Nódulos ou úlceras satélites na pele
Linfonodos axilares densos ou fixos sugerem que o tumor já se espalhou, assim como linfadenopatia supraclavicular ou infraclavicular.
Tratamento do câncer de mama
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Cirurgia
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Frequentemente, radioterapia
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Terapia sistêmica; terapia endócrina, quimioterapia, ou ambas
Para informações adicionais detalhadas sobre o tratamento, ver NCCN Clinical Practice Guideline: Breast Cancer.
Para a maioria dos cânceres de mama, o tratamento envolve cirurgia, radioterapia e terapia sistêmica. A escolha do tratamento depende das características do tumor e da paciente . As recomendações para a cirurgia estão evoluindo e incluem o encaminhamento precoce a um cirurgião plástico ou de reconstrução para cirurgia oncoplástica (que combina a remoção do câncer com a reconstrução da mama).
Referências sobre triagem
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1. The American College of Obstetricians and Gynecologists: Practice bulletin no. 179: Breast cancer screening. Obstet Gynecol 130 (1), 241–243, 2017.
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2. U.S. Preventive Services Task Force: Screening for breast cancer: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Ann Intern Med 151 (10):716–726, W-236, 2009. doi:10.7326/0003 -4819-151-10-200911170-00008
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3. Nelson HD, Fu R, Cantor A, et al: Effectiveness of breast cancer screening: Systematic review and meta-analysis to Update the 2009 U.S. Preventive Services Task Force Recommendation. Ann Intern Med 164 (4):244–255, 2016. doi: 10.7326/M15-0969 Epub 2016 Jan 12.
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4. Friedewald SM, Rafferty EA, Rose SL, et al: Breast cancer screening using tomosynthesis in combination with digital mammography. JAMA 311 (24):2499–2507, 2014. doi: 10.1001/jama.2014.6095