Por RAQUEL LUIZA,
O câncer de ovário é a mais agressiva neoplasia ginecológica, ostentando números pobres de sobrevida em 5 anos. O tratamento desses pacientes na maioria das vezes requer a utilização de antibióticos (ATB) para prevenir ou combater a infecção bacteriana relacionada aos procedimentos cirúrgicos.
A novidade é que os pesquisadores da Cleveland Clinic passaram a advogar a necessidade de uma melhor gestão desses antimicrobianos como estratégia potencial para incrementar os resultados clínicos desses pacientes. Artigo recente na Cancer Research faz referência a um trabalho anterior do mesmo grupo publicado em Clinical Oncology que encontrou menores taxas de sobrevida em pacientes com câncer de ovário tratadas com os esquemas ATB tradicionais.
Com tais achados sugerindo uma provável relação com fatores do microbioma intestinal, fortemente afetado pelos esquemas ATB, os pesquisadores investiram em como compreender melhor esse fenômeno. Grupos de camundongos com sistema imune íntegro ou imunocomprometidos receberam porções de água (controle) ou água contendo combinações protocolares de ATB (metronidazol, ampicilina, vancomicina e neomicina) antes de receberem injeções intraperitoneais contendo células de câncer epitelial de ovário. Os animais também receberam quimioterapia quinzenal com cisplatina até o fim do acompanhamento.
Curiosamente, o grupo que recebeu ATB exibiu maiores taxas de crescimento tumoral e de resistência à cisplatina que os animais de controle. No nível celular, os tumores do grupo tratado exibiam menos apoptose, mais angiogênese, aumento do reparo ao dano de DNA e maior quantidade de células-tronco que os tumores dos animais controle.
A análise das fezes evidenciou uma série de espécies interrompidas pelo tratamento com ATB, sugerindo um fator supressor tumoral de origem no microbioma. Na sequência, os pesquisadores descobriram que a recolonização de espécies no intestino por meio de transplante de microbiota foi suficiente para reduzir a resistência à cisplatina e aumentar a sobrevida dos animais tratados com ATB.
Por fim, estudo metabolômico evidenciou metabólitos bacterianos como ácido indol-3-propiônico e sulfato de indoxil que foram alterados pelo ATB e restaurados pela recolonização, credenciando-os como potenciais mediadores da interação entre microbioma e câncer de ovário.
Quer saber mais?