Por RAQUEL LUIZA,
Desde os primórdios da medicina, até hoje em dia, o diagnóstico da infecção de ferida é feito essencialmente da mesma maneira. Calor, rubor, edema e, eventualmente, secreção purulenta. Desse modo, o diagnóstico da infecção de ferida é subjetivo e muito dependente da experiência do profissional.
A novidade é que pesquisadores da Western University e da empresa Swift Medical Inc. anunciaram o desenvolvimento do que pode se tornar futuramente o primeiro dispositivo de bolso para a detecção de feridas infectadas. A publicação na revista Frontiers in Medicine conta que a motivação para o trabalho foi que o diagnóstico correto e precoce da infecção de ferida é essencial para preservar o processo de cicatrização e evitar complicações sistêmicas como a sepse, o que torna urgente o desenvolvimento de tecnologias neste sentido.
No estudo, os pesquisadores tentaram unir em uma mesma ferramenta todos os métodos disponíveis atualmente para a avaliação de feridas. O novo dispositivo chama Swift Ray 1 e pode ser acoplado a um smartphone conectado ao software Swift Skin and Wound. A partir disso, são geradas fotografias de nível médico, imagens de termografia infravermelha que medem o calor corporal e imagens de fluorescência bacteriana que revelam bactérias usando luz violeta.
Todos os três métodos, inspeção, termografia médica e fluorescência bacteriana possuem significativas limitações para a avaliação de infecção em feridas. Como exemplo, a termografia não distingue entre inflamação estéril e infecção, ao passo que a fluorescência bacteriana só avalia a superfície da ferida e pode não distinguir entre colonização e infecção. Entretanto, os pesquisadores queriam descobrir se a união dos três métodos em um único dispositivo poderia compensar essas limitações.
Para essa avaliação, foram recrutados 66 pacientes portadores de feridas. Essas feridas não apresentavam sinais de propagação da infecção, não continham corpos estranhos e não haviam sido tratadas anteriormente com antibióticos ou fatores de crescimento. As feridas foram descobertas, limpas e secas antes da imagem e depois tratadas como de costume.
As imagens identificaram quatro padrões de feridas; temperatura não superior à da pele sadia, com ou sem fluorescência positiva (não inflamadas) e temperatura superior à da pele sadia, com ou sem fluorescência positiva (inflamadas).
Das 66 feridas, 20 foram consideradas não inflamadas, 26 estavam inflamadas e 20 estavam infectadas. Após essa avaliação, o algoritmo de inteligência artificial desenvolvido pela equipe foi capaz de diferenciar muito bem (precisão de 74%) três diferentes condições. No caso específico, a diferenciação pelo modelo teve precisão de 100% para feridas infectadas e 91% para feridas não infectadas.
Ressaltando que se trata de um estudo piloto, os pesquisadores dizem que, mesmo se completamente desenvolvido no futuro, o dispositivo não se destina a substituir a atuação médica, mas a auxiliá-la.
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Fonte: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmed.2023.1165281/full