Exposição à poluição atmosférica no início da gestação aumenta o risco de diabetes gestacional

Por RAQUEL LUIZA,


 

Durante o período pré-concepcional e nas primeiras semanas de gestação, o organismo da mulher passa por intensas transformações fisiológicas para poder suportar o futuro desenvolvimento do feto. Isso é especialmente verdade para a forma como o organismo materno passa a lidar com o metabolismo glicêmico tão necessário ao desenvolvimento do feto.

A novidade é que pesquisadores da University of Southern Califórnia descobriram que esse período dinâmico de adaptação metabólica pode aumentar a suscetibilidade da mulher a danos por insultos ambientais. Mais especificamente, foi descoberto que a exposição da mulher à poluição atmosférica em uma curta janela que vai desde a última regra às cinco primeiras semanas de gestação aumentou o risco de diabetes gestacional. A publicação em The Lancet Regional Health – Americas traz parte dos dados do estudo Maternal and Developmental Risks from Environmental and Social Stressors (MADRES), uma coorte prospectiva com predominância de gestantes de origem hispânica (78,6%) atendidas em clínicas de Los Angeles.

Na coorte com 617 gestantes, foram diagnosticados 60 (9,72%) casos de diabetes gestacional. Esses dados de risco relativo de diabetes gestacional foram cruzados com dados de exposição a poluentes atmosféricos em cada semana por meio do endereço declarado, de 12 semanas antes a 24 semanas após a concepção, ajustando para potenciais fatores de confusão. Os principais poluentes investigados foram relacionados ao tráfego de veículos como poluentes de partículas fina (PM2,5 e PM10), dióxido de nitrogênio (NO2) e ozônio (O3).

Os pesquisadores também investigaram a modificação do efeito pela depressão pré-natal, IMC pré-gestacional e idade. O resultado desse esforço revelou que o risco de diabetes gestacional aumentou com a exposição a PM2,5, PM10e NO2 em uma janela periconcepcional variando de 5 semanas antes a 5 semanas após a concepção: aumentos na faixa interquartil em PM2,5, PM10e NO2 durante esta janela foram associados a aumentou o risco de desenvolver diabetes gestacional em 5,7% (95% CI: 4,6–6,8), 8,9% (8,1–9,6) e 15,0% (13,9–16,2), respectivamente. Outra observação importante foi que a associação entre poluição do ar e diabetes gestacional se mostrou mais pronunciada entre as participantes do estudo que sofriam de depressão pré-natal.

Segundo os autores, uma hipótese para a correlação entre diabetes gestacional e poluição ambiental se fundamente em estresse oxidativo no trato respiratório causando inflamação crônica de baixo grau sistêmica com consequente esgotamento das defesas antioxidantes e interrupção das vias de sinalização de insulina. Além disso, o estudo mostra mais um potencial benefício da abordagem precoce da depressão antenatal, para além dos já conhecidos, mas também uma forma de proteção potencial contra o desenvolvimento de diabetes gestacional.

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Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2667193X23001497?via%3Dihub

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