Benzodiazepínicos para tratar ansiedade ligada ao câncer podem influenciar prognóstico

Por RAQUEL LUIZA,


Com grande frequência os pacientes portadores de câncer são tratados com diferentes abordagens visando condições além do tratamento da doença principal. Um exemplo importante é o tratamento do estado de ansiedade que costuma se instalar em boa parte dos pacientes.

A novidade é que pesquisadores do Roswell Park Comprehensive Cancer Center sugerem, em seu novo estudo, que a escolha do benzodiazepínico para tratar a ansiedade pode influir diretamente no prognóstico. A publicação na revista Clinical Cancer Research comenta que a equipe queria entender exatamente o impacto de algumas dessas terapias complementares no tratamento do câncer.

Foi descoberto que os pacientes tratados em Roswell Park para câncer de próstata, pâncreas, ovário, rim, cabeça e pescoço, endométrio, cólon, mama, cérebro ou melanoma, 30,9% receberam benzodiazepínicos, com os portadores de câncer de pâncreas chegando a taxa de uso de benzodiazepínicos de 40,6%. Em todo esse grupo, a utilização de qualquer benzodiazepínico, quando ajustada para idade, raça, sexo, estágio e progressão da doença e tratamentos recebidos, foi associada a um risco de morte por câncer 30% menor nos portadores de câncer de pâncreas.

Curiosamente, o resultado foi diferente quando verificado o benzodiazepínico prescrito. No grupo de portadores de câncer de pâncreas, foi visto que os dois benzodiazepínicos mais comumente usados foram o lorazepam (n=40) e o alprazolam (n=27).

Os pacientes que tomaram alprazolam tiveram um risco 62% menor de progressão da doença ou morte em comparação com aqueles que não tomaram alprazolam (n=42). Por outro lado, os pacientes que tomaram lorazepam tiveram um risco 3,83 vezes maior de progressão da doença ou morte do que os pacientes que não tomaram lorazepam (n=29).

Em avaliação posterior em portadores de outros tipos de câncer, o alprazolam não foi associado a qualquer influência no resultado clínico. Por outro lado, o uso do lorazepam correlacionou-se com uma sobrevida global significativamente pior em câncer de próstata, ovário, cabeça e pescoço, útero, cólon e mama, bem como melanoma, com efeitos variando de um risco aumentado de 25% a 116%.

Para investigar essa curiosa correlação, os pesquisadores utilizaram modelos murinos de câncer de pâncreas. Com tal estratégia, descobriram que o lorazepam, mas não o alprazolam, tem a capacidade de ativar no microambiente tumoral a proteína GPR68. Essa proteína, por sua vez, aumenta a inflamação no microambiente tumoral ao aumentar a produção de interleucina 6 (IL-6) e com isso favorece a progressão tumoral.

Esse efeito foi comum a toda a classe de benzodiazepínicos não substituídos (lorazepam, clonazepam, nordiazepam e oxazepam). Por outro lado, quando a mesma avaliação foi feita em relação aos benzodiazepínicos N-substituídos (alprazolam, diazepam e temazepam), não só não houve incremento da GPR68, mas houve inibição significativa da IL-6.

Segundo os autores, o próximo passo, antes de recomendações formais, será um ensaio clínico prospectivo para avaliar os efeitos dessas diferentes classes de benzodiazepínicos em pacientes com câncer pancreático.

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Fonte: https://aacrjournals.org/clincancerres/article/doi/10.1158/1078-0432.CCR-23-0547/728435/Lorazepam-Stimulates-IL6-Production-and-Is

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