Nesta semana, lei federal tipificou a prática como crime. Unidades oferecem tratamento multidisciplinar para minimizar efeitos
Agência Brasília* | Edição: Vinicius Nader
A diretora de Saúde Mental da SES, Fernanda Falcomer, aponta que uma situação julgada como simples por uma pessoa pode ser grave para outra. Por isso, é essencial ter cautela com ações e palavras. “O impacto vai variar de acordo com as características pessoais. Toda experiência de violência tem potencial de causar um adoecimento mental”, explica a psicóloga.
Indícios
Alterações de humor, recusa em ir à escola ou a outros círculos sociais e dificuldades para dormir são possíveis indicativos de sofrimento mental por parte de crianças e adolescentes. Nesses casos, as 176 unidades básicas de saúde (UBSs) são a porta de entrada aos serviços da rede pública. Equipes de Saúde da Família (eSF), reforçadas por profissionais de diversas especialidades, como psicólogos e terapeutas ocupacionais, podem fazer a abordagem inicial e promover o acompanhamento do paciente, tanto em atividades individuais quanto coletivas.
Se houver sofrimento psíquico persistente e grave, há o encaminhamento a um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (Capsi). São quatro unidades, localizadas na Asa Norte, Taguatinga, Recanto das Emas e Sobradinho – todas com equipe multiprofissional para analisar a realidade da criança ou do adolescente e propor intervenções. O Caps de Brazlândia também faz esse tipo de atendimento. Já a unidade do Plano Piloto se destaca por ter sido o primeiro Capsi do Brasil.
“Não limitamos nosso olhar só ao bullying, mas a tudo que acontece. Verificamos todas as dimensões sociais do paciente, não só o diagnóstico ou a medicação, por exemplo. É esse o trabalho de um Capsi”, afirma a gerente da unidade da Asa Norte, Mairla Castro. A abordagem inclui a família e a identificação de todas as situações que possam afetar a criança ou adolescente atendido. “O que será que nós, como sociedade, temos ofertado e tirado? O que faz sentido para essas crianças?”, indaga a servidora.
Prevenção
Para ampliar as ações, os centros infanto-juvenis realizam o projeto Capsi vai às escolas. Há bate-papo com alunos, instrução a professores e brincadeiras para promover o tema saúde mental, além de conversa sobre assuntos apresentados pelos próprios estudantes. A ida ao ambiente escolar auxilia na detecção precoce e no encaminhamento correto. A cada ano, cerca de mil estudantes participam de ações do tipo, abertas às redes pública e privada.
O tema bullying também é recorrente no Centro de Orientação Médico-psicopedagógica (Compp) e no Adolescentro, especializados na assistência a pacientes de até 11 anos e de 12 a 17 anos, respectivamente.
“Fazemos atendimentos todos os dias sobre bullying, Quando chegam aqui, já apresentam um sofrimento antigo”, revela a supervisora do Adolescentro, Marineide Vila Nova.
Os pacientes dessas unidades são direcionados pelas UBSs ou pelos Capsis, apresentando a necessidade de abordagens específicas, quase sempre envolvendo vários aspectos da vida do jovem, como o uso da tecnologia e o desenvolvimento da sexualidade. Nas unidades, atuam servidores de diversas carreiras, todos especializados no atendimento a crianças e adolescentes.
Bullying no Brasil
Nesta semana, foi sancionada a lei federal nº 14.811 que criminaliza a prática, tipificando os crimes de “intimidação sistemática (bullying)” e “intimidação sistemática virtual (cyberbullying)”. As penas podem ir de multa a reclusão de quatro anos, se não for identificado crime mais grave.
*Com informações da Secretaria de Saúde