Após um ano da morte do jovem, técnica de enfermagem do HRSM diz encontrar forças no trabalho e na filha; pessoas beneficiadas pela doação gravaram vídeo de agradecimento
Agência Brasília* | Edição: Chico Neto
“Fico emocionada de saber que o meu filho foi capaz de transformar a vida desses dois jovens, porque eles estavam superdebilitados quando fizeram o transplante e agora estão bem, com saúde”Rita de Kássia Souza, técnica em enfermagem
O acidente aconteceu em 12 de janeiro, e, após ser socorrido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Luziânia, o jovem foi transferido para o HRSM, hospital mais próximo e onde Rita trabalha. Uma semana após a internação, o óbito foi confirmado. Mesmo diante da dor de perder o filho mais velho, Rita optou por fazer a doação de órgãos de Gabriel e mudar a vida de outras pessoas com esse gesto de solidariedade.
Para homenagear a profissional e levar um pouco de conforto à técnica de enfermagem, a sua equipe, juntamente com membros da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, escreveu uma carta que foi entregue a Rita com uma cesta de chocolates e flores.
Processo sigiloso
“Eu nem imaginava receber essa surpresa em meio ao trabalho, no meio do expediente”, contou a profissional de Saúde. “Esses últimos dias, após as festas de fim de ano, foram muito difíceis. Quando me sinto muito mal, prefiro vir trabalhar, pois consigo me distrair e ocupar a cabeça. Fora que meus amigos me confortam e me dão apoio diariamente. Além disso, minha filha Sofia me dá forças para continuar vivendo.”
O processo de doação é sigiloso. Devido à repercussão do caso, porém, os dois jovens receptores dos rins de Gabriel – uma mulher de Brasília e um homem de Paracatu (MG) – entraram em contato com Rita quando receberam os órgãos. Para deixar a homenagem ainda mais completa, a equipe do hospital conseguiu o vídeo deles agradecendo pela doação.
“Fico emocionada de saber que o meu filho foi capaz de transformar a vida desses dois jovens, porque eles estavam superdebilitados quando fizeram o transplante e agora estão bem, com saúde”, comemorou Rita. “É praticamente um milagre de Deus”, avalia. Com a doação de órgãos do filho, Rita conseguiu ajudar seis pessoas diferentes.
Doação de órgãos
“A atitude da Rita foi linda, e, apesar de ter perdido o filho, ela vive sorrindo, faz um trabalho de excelência aqui no HRSM”Raíssa Sudario, da equipe do hospital
Responsável por fazer a busca ativa e acompanhar todo o protocolo de morte encefálica no HRSM, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes é quem costuma conversar com as famílias sobre a doação de órgãos.
“A atitude da Rita foi linda, e, apesar de ter perdido o filho, ela vive sorrindo, faz um trabalho de excelência aqui no HRSM. Ela merece todas as homenagens”, disse Raíssa Sudario, integrante da comissão.
No HRSM, é possível fazer captação de córneas. A retirada e transplante de outros órgãos são feitos em outras unidades do DF, como o Hospital de Base e o Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF). Em novembro de 2023, foi realizada a primeira captação de múltiplos órgãos no HRSM por uma equipe do ICTDF.
Ao longo de 2023, ocorreram 48 casos prováveis de captação de córneas, mas somente 12 captações puderam ser efetuadas. No caso de morte encefálica, foram registradas cinco doações de córneas, totalizando 17 captações, naquele ano, no HRSM.
A equipe da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes lembra que é importante a pessoa deixar explícito para a família o desejo de doar os órgãos. O objetivo é ampliar a conscientização sobre a importância da doação, que pode salvar vidas. A doação de córneas pode ser feita após o óbito, com coração parado. São seis horas para captação sem o corpo refrigerado e 12 horas com refrigeração.
*Com informações do IgesDF